O fato de o MEC (Ministério da Educação) não ter comprado os livros didáticos para o ensino básico para 2026 deve servir como um alerta de que a educação no Brasil talvez não esteja sendo tratada com a devida seriedade. A justificativa apresentada é a falta de verbas, mas isso não explica, tampouco justifica, o descaso com algo tão fundamental quanto alimentação, moradia e saúde. É desnecessário lembrar que a garantia à educação gratuita e aos recursos necessários para sua implementação, como livros, alimentação e transporte, está prevista na Constituição.

     Ainda assim, o PNDL (Programa Nacional do Livro Didático) receberá apenas R$ 2 bilhões dos R$ 3,5 bilhões inicialmente orçados. Com esse corte, apenas uma pequena parcela de livros será adquirida, excluindo obras de história, geografia, ciências e artes. Seriam essas disciplinas menos importantes do que matemática e língua portuguesa? Certamente, estas últimas formam a base do aprendizado, mas não representam o todo. Expressamos nossas ideias por meio da linguagem e quantificamos o mundo pela matemática, mas precisamos de conteúdo informativo para dar sentido a essas ferramentas. É a ciência, seja ela natural ou humana, que nos permite compreender o mundo. As artes, por sua vez, são essenciais para expressar cultura e desenvolver a sensibilidade. Que tipos de cidadãos estarão se formando se privarmos os estudantes dessas prerrogativas? Autômatos?

     Assim como o feijão com arroz fornece um conjunto completo de aminoácidos essenciais, sendo uma combinação nutricional básica e eficiente, ela não é suficiente para garantir uma alimentação saudável. Faltam vitaminas, minerais e gorduras necessárias para o bom funcionamento do corpo, como aprendi com a ciência. Da mesma forma, para o desenvolvimento intelectual e moral do ser humano, é indispensável mais do que letras e números. São necessárias ideias, conceitos e sistemas de conhecimento para formar uma sociedade funcional, pautada por boas regras e valores.