Nos anos 1970, a Venezuela era vista como um modelo de democracia em meio a governos ameaçados por golpes de Estado e ditaduras. Na década seguinte, sua economia, dependente do petróleo, afundou em uma crise profunda, levando o país a dobrar a taxa de pobreza da população. Essa foi a brecha para que uma insurreição militar fracassada abrisse caminho para que seu líder, Hugo Chávez, consolidasse seu poder em eleições democráticas anos mais tarde. Tal brecha foi aberta não só por conta da insatisfação da população com a crise econômica, mas muito mais por conta do apoio incondicional dado a Hugo Chávez pelo então presidente venezuelano Caldera (1994). Como cupins que minam a estrutura da casa de forma silenciosa e sistemática, demagogos populistas trabalham de modo similar: se aninham com a liderança política do establishment para depois corroê-lo.
Após um ano de eleições fraudadas na Venezuela, Nicolás Maduro consolida seu poder com perseguições e prisões de opositores, torturas de presos e execuções sumárias. Essas ações representam apenas algumas das violações cometidas pela ditadura de Maduro. O mesmo fenômeno se repete em El Salvador com Nayib Bukele e na Nicarágua com Daniel Ortega, seguindo os passos do chavismo. Como todo político populista com pretensões democráticas, Nayib Bukele, no poder desde 2019, deseja agora confrontar o establishment, rejeitando as regras das instituições democráticas que o elegeram. No último dia 31, a Assembleia Legislativa, controlada pelo partido governista, aprovou emendas constitucionais que permitirão a reeleição ilimitada, a extensão de mandatos de cinco para seis anos e o fim do segundo turno das eleições, entre outras mudanças. Tais indícios de autoritarismo mal disfarçam a manipulação constitucional e a tentativa de solapar as instituições democráticas a partir de suas bases.
Como dito anteriormente, tal como cupins, que se espalham por brechas em paredes e tubulações, tais populistas aproveitam as rachaduras de instituições democráticas em crise, infiltram-se e rapidamente devoram seus pilares, deixando uma serragem fina e portas e janelas difíceis de abrir. E uma vez infestada, a casa pode ruir.



