Explorando as raízes e a diversidade do Sertão Carioca a partir de xilogravuras, a exposição “Ser-tão Carioca”, do artista Thiago Modesto, estará aberta ao público a partir deste sábado (2), até 11 de novembro, no Museu Bispo do Rosário de Arte contemporânea, no bairro da Taquara. A exposição, que coincide com a semana do aniversário do bairro de Jacarepaguá, será realizada de terça a sábado, das 9h às 17h. A entrada é gratuita, aberta a todos os interessados em explorar as interconexões entre história, cultura e identidade no contexto do Sertão Carioca.
As raízes da exposição vêm das memórias da infância do artista, permeadas por contos da sua família, que migrou de outros sertões do interior do estado do Rio de Janeiro para a Zona Oeste da cidade. “Minha infância foi recheada de contos e causos contados pela minha avó e da família reunida aos domingos ao redor de uma pilha de canas doces e risadas, nutrindo em mim uma saudade de um mundo rural que não vivenciei por mim, mas pelos olhos dos meus familiares”, compartilhou Thiago, carioca, designer e gravurista, estabelecido há mais de três décadas em Jacarepaguá. Revisitando essas memórias, as xilogravuras da mostra resgatam e celebram a identidade única desse território.
A expressão “Sertão Carioca” foi cunhada por Armando Magalhães Corrêa. Ele descreveu a vida sertaneja e a natureza da zona rural do Rio de Janeiro, da Baixada de Jacarepaguá até Pedra de Guaratiba. Esses artigos inspiraram o livro “O Sertão Carioca”, publicado em 1936. “Talvez pelo contexto da época, Magalhães acabou se deixando seduzir apenas pela fauna e flora, trazendo uma visão estrangeira e rasa principalmente sobre as religiões afro-brasileiras”, Thiago destaca. “Logo percebi que o que mais me interessava não eram apenas folhas, nascentes e pássaros, mas as pessoas que coabitavam essa paisagem com equilíbrio entre a natureza e tradição, mantendo sua cultura ancestral”, completa.
Hoje, a designação “Sertão Carioca” evoca um conceito simbólico que abrange as dimensões naturais, sociais e culturais da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Dentro desse território, persistem valores éticos, espirituais, simbólicos e afetivos que estão profundamente enraizados na relação com a terra. “Foi durante um trabalho de pesquisa e convívio com outras comunidades do sertão carioca para o projeto do Afluentes Culturais, que me reconectei com aquelas histórias de infância e hábitos familiares que há algum tempo já haviam adormecido e isso foi uma grande fonte de inspiração para retratar aquilo que já florescia em mim”, ele conta. Inspirado pelas potencialidades da região do maciço da Pedra Branca, ele desenvolveu a pesquisa com um olhar focado no “Sertão Carioca” de ontem e de hoje.
As obras para a exposição foram selecionadas em conjunto com o curador Bernardo Marques e a cenógrafa Thais Merçon. “Observando os trabalhos criados até agora, conseguimos traçar um paralelo muito semelhante entre as obras que contam a história da minha família e outras obras que retratam pessoas que conheci durante meu convívio no território denominado Sertão Carioca. A semelhança entre vivências tão distantes geograficamente e similares culturalmente nos saltou os olhos e a partir daí construímos a exposição baseada nas histórias da vida em comunidade e dos pequenos círculos familiares que habitam agora o mesmo território, a Zona Oeste”, ele explica.
Thiago viu diversos aspectos das tradições que vivenciou acabarem ao longo do tempo para dar lugar à modernidade. “A vida na metrópole foi ditando seu ritmo em minha família e muitos dos hábitos do interior foram ficando apenas na minha infância. Nessa confusão toda e na mistura desses mundos distintos, existe também minha inquietação como artista visual e xilógrafo, além da minha própria história familiar. Então o termo para mim representa minha essência, me dá sensação de pertencimento e me permite continuar contando histórias que são tão comuns na nossa construção como carioca, porém que são deixadas de lado para dar lugar a uma visão estereotipada do Rio de Janeiro do sal e do sol”, conclui.
Além da exposição, Thiago Modesto oferecerá oficinas de xilogravura para todos os públicos interessados, concedendo uma oportunidade única de experimentar a técnica tradicional da xilogravura, explorando as raízes artísticas e culturais do sertão.
SERVIÇO
Local: Museu Bispo do Rosário de Arte contemporânea
Endereço: Edifício Sede da Colônia Juliano Moreira – Estr. Rodrigues Caldas, 3400 – Curicica, Rio de Janeiro
Data: 02/09 até 11/11/2023
Ingressos gratuitos