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Exposição “RETRATOS RELATOS” de Panmela Castro é reaberta ao público no Museu da Republica

Mostra de portraits interrompida durante a pandemia reabre para visitação, a partir de 15 de novembro, dia do aniversário do museu

Uma semana antes do início do isolamento social contra a pandemia da
COVID-19, em 07 de março de 2020, o Salão Nobre do Palácio do Catete, no Museu da República, servia de palco para um baile, onde o público dançava em pares pisoteando flores em alusão a violência doméstica. A performance marcaria a abertura da exposição “Retratos Relatos”, da artista carioca Panmela Castro, que, agora, quase vinte meses depois, passa a ficar novamente aberta à visitação, no dia 15 de novembro, dia do aniversário de 81 anos do museu. Com curadoria de Keyna Eleison, a exposição apresenta uma série de retratos inspirados em relatos de mulheres enviados à artista por email.

Tudo começou em 2019. Motivada pela repercussão de um suposto caso de abuso que veio a público envolvendo uma jovem e um jogador

Foto: Divulgação

de futebol, Panmela postou nas redes sociais uma experiência que havia vivenciado anos atrás e convidou outras mulheres a dividirem suas histórias. A resposta foi tão grande que Panmela, premiada internacionalmente pelo seu ativismo social frente a ONG Rede Nami, resolveu transformar os relatos em um projeto artístico. Desde então, a artista vem recebendo via email estórias de mulheres de todas as partes do país, acompanhadas por selfies. Cada relato foi transformado num portrait, inspirado não só pela imagem da autora como temática da narrativa.

Ao todo, a exposição traz 18 obras das quais sete são inéditas, criadas no último ano, ao longo do isolamento. Cada pintura vem acompanhada do texto na íntegra, tal qual foi escrito, sem que o nome seja revelado. São relatos, por exemplo, de mulheres contando como se sentiram em suas casas nesse período, acumulando funções do trabalho remoto e a responsabilidade pelos cuidados da família. Das obras antigas para as novas não só os temas mudaram como também o visual das pinturas. Segundo Panmela, durante o período sozinha no ateliê, ela pode se concentrar em desenvolver seu trabalho de arte, criando novos rumos para a sua produção.

Apesar de não ter estipulado o teor, a maioria dos relatos fala de
abusos contra a mulher nas suas mais variadas formas. Um deles, inédito no acervo, é o da Dra. Cristina, caso emblemático da década de 80, que acabou abrindo portas para que outras mulheres denunciassem seus companheiros. Cristina teve 85% do corpo queimado pelo namorado e o agressor foi condenado a 11 anos de prisão em uma época em que não existia a Lei Maria da Penha. Hoje, ela está à frente de uma organização especializada em tratar cicatrizes emocionais. A mostra também traz o relato da própria Panmela, vítima de abuso sexual na adolescência.

Os relatos enviados durante a quarentena apontam para um velho e conhecido problema da nossa sociedade: o machismo estrutural, que acaba regendo todas as relações dentro de casa, não só entre marido e mulher como também entre pais e filhos. São desabafos de mães sobrecarregadas com os afazeres de casa e deveres profissionais; mães e filhas descobrindo na convivência diária suas diferenças; ou
simplesmente mulheres que viram suas vidas virarem do avesso por conta da pandemia. Um deles conta o drama de uma jovem que descobriu ser soropositiva no meio da gestação durante a quarentena. A partir daí, ao invés de apoio, ela passa a sofrer todas as formas de violência possível do marido e de sua família, culminado com a perda da casa e a guarda do bebê.Estórias como essas reforçam também uma das principais bandeiras levantadas por Panmela: a equidade racial e de gênero. Segundo ela, a pandemia trouxe uma maior preocupação com os mais vulneráveis se fazendo urgente repensar as políticas em prol desses indivíduos.

É preciso dar espaço para que pessoas negras, com deficiência, mulheres, LGBTQIA+, povos originários tenham acesso aos espaços de decisão e poder, seja através das artes, política ou ciências. Só assim seremos capazes de pensar um futuro mais justo e igualitário para todos: uma esperança de desenvolvimento de relações muito mais sustentáveis entre as próprias pessoas e com o planeta – defende a

artista.

Ao longo dos meses, como parte da programação de “Retratos
Relatos”, também serão promovidas algumas atividades gratuitas no
Museu da República, tais como, uma tarde de pintura ao vivo com Panmela no jardim e uma oficina de autoretrato no espaço educativo da instituição.

Foto: Divulgação
SOBRE PANMELA CASTRO:

Panmela Castro (1981) é artista visual, ativista, grafiteira, performer e educadora. Utiliza a arte como ativismo em defesa dos direitos da mulher e da igualdade de gênero. Reconhecida internacionalmente, seu trabalho, além da pintura e do grafitti, inclui performances, fotografia, vídeo, esculturas e instalações participativas. Atualmente, Panmela é representada pela Galeria Luísa Strina, em São Paulo, uma das mais importante da América Latina e, recentemente, teve suas obras adquiridas para coleções dos principais museus do mundo como o Stedelijk muse um de Amsterdam, o Instituto de Arte Contemporânea de Miami e mesmo o Museu de Arte no Rio.

Além da Exposição “Retratos Relatos”, Panmela ainda está com obra na exposição “Enciclopédia Negra”, na Pinacoteca de São Paulo, e na C Galeria, no Rio. No primeiro semestre foi apresentada na maior feira de Arte do mundo, a Basel como pioneira de sua geração na arte brasileira, além de apresentar sua obra em exposições em Nova York e Portugal. Sem contar com sua primeira exposição individual rescém aberta em sua galeria, em São Paulo, que a destacou como a artista brasileira mais celebrada da cena nacional.

Como tradição de seu ativismo e sua ocupação como presidente da Rede NAMI, organização que fundou em 2010 para promover os direitos das mulheres, em setembro deste ano, Panmela apresentou as artistas da ONG na Artrio, a feira de arte tradicional do Rio de Janeiro, onde não só vendeu o trabalho de todas as participantes (que em sua maioria nunca haviam experimentado viver de sua arte), como também colocou na coleção do MAR, três delas.

Nascida na Penha, subúrbio na Zona Norte do Rio de Janeiro, Panmela começou a carreira nas ruas, em 2005, com o codinome Anarkia Boladona. Motivada por uma experiência pessoal de violência doméstica praticada por seu então marido, Panmela encontra no grafite a expressão oportuna para desenvolver sua pesquisa, que entrelaça experiências pessoais, espaço público e questões políticas. Mais tarde, ingressa na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA/UFRJ), onde conclui o bacharelado em pintura, e, depois, torna-se mestre em processos artísticos contemporâneos pelo Instituto de Artes da UERJ.

A partir de 2010 funda e coordena a Nami, Rede Feminista de Arte Urbana, cujo nome é inversão das sílabas de palavra mina. A rede acompanha artistas, produz exposições e workshops dos projetos Graffiti Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres e Afro Grafiteiras e  mantém um museu.

Panmela já esteve presente em festivais e projetos de arte pública em mais de 20 países, entre os quais se destacam o mural Together We Are Stronger (2019), no Stedelijk Museum, em Amsterdam; Dororidade (2018), no Quarteirão Cultural da Lavradio, no Rio de Janeiro; Women’s Rights Are Human Rights (2017), na First Street Green Art Park, em Nova York; Somos Somas (2016), no Urban Nation Museum de Berlim.

Reconhecida como a Rainha do Graffiti Brasileiro pela TV norte-americana CNN, Panmela é premiada como Grafiteiro do Ano (2007) e Grafiteiro da Década (2010), pela Central Única das Favelas (Cufa), no Rio de Janeiro. Recebe ainda o prêmio Vital Voices Global Leadership Awards (2010), e integra a lista 150 Women Who Shake The World (2012).

Com atuação engajada – em sua expressão artística, palestras e
workshops –, Panmela Castro aponta questões sobre desigualdade de
gênero propondo um diálogo entre arte e público. Abre caminho para
outras mulheres artistas, sugerindo que uma arte socialmente consciente
possa transmitir mensagens que ajudem a implementar importantes e
necessárias mudanças estruturais, sociais e culturais

SERVIÇO:

RETRATOS RELATOS – PANMELA CASTRO/CURADORIA KEYNA ELEISON LOCAL: Museu da República (Rua do Catete, 153. Catete. Rio de Janeiro).
DATA: 15 de novembro a 31 de março.
HORÁRIO VISITAÇAO: 10h às 17h (terça a sexta); 11h às 17h (sábado, domingo e feriados). Jardins (8h às 17h) diariamente.
CONTATO: (21) 3470-7062

VALOR: Entrada Franca.

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