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Festival de Cinema de Xerém homenageia Antônio Pitanga e Louiz Carlos da Silva e movimenta a cena cultural da Baixada Fluminense

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A cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, está sendo palco de um dos eventos mais promissores do calendário audiovisual do estado: a 2ª edição do Festival de Cinema de Xerém. De 5 a 7 de junho, o festival reúne produções cinematográficas de várias regiões do país, destaca talentos locais e homenageia dois nomes emblemáticos da cultura brasileira — o ator e diretor Antônio Pitanga e o presidente do Instituto Zeca Pagodinho, Louiz Carlos da Silva.

A cerimônia de abertura, realizada no Espaço Bellogio, marcou o início da programação e foi o momento em que os homenageados receberam o Troféu Zeca Pagodinho, símbolo do festival. Na mesma noite, foi exibido o documentário Pitanga, uma celebração da trajetória do ator baiano, dirigido por sua filha, Camila Pitanga, e por Beto Brant.

O evento é realizado pela Escola Brasileira de Audiovisual (EBAV), sob direção de Sérgio Assis, que também idealizou o projeto. A proposta é democratizar o acesso ao cinema e dar visibilidade à produção de curtas-metragens, especialmente os que vêm da Baixada Fluminense. A ideia nasceu da experiência com o projeto Cinema Leva Eu, desenvolvido durante a pandemia e que impactou positivamente a vida de centenas de moradores da região, muitos dos quais hoje atuam no mercado audiovisual.

Além das homenagens, a programação contempla a exibição de 20 filmes e 15 curtas-metragens nas mostras competitivas Nacional, Baixada e Gospel. Os vencedores das categorias Melhor Filme, Direção, Roteiro, Ator, Atriz e Júri Popular recebem o Troféu Zeca Pagodinho. O corpo de jurados é composto por artistas e profissionais do audiovisual, como Patrícia Pillar, Vinícius de Oliveira, Klev Soares, Sofia Manso e Marcelo Marão.

Entre os destaques da Mostra Nacional de Curtas estão os filmes A Caverna, de Louise Fiedler, TCC – Trabalho Caótico de Cinema, de Ricardo Santos, Sertão 2138, de Deuilton do Nascimento, entre outros. Na Mostra Baixada, o público poderá assistir obras como Paçoca, de Marçal Vianna, e São Jorge de Meriti, de Ricardo Rodrigues e Léo de Assis. Já na Mostra Gospel, serão exibidos filmes como Lúcia, de Murilo Santos, e O Perdão é Vermelho, de Patricia Evangelista.

A programação infantil também é destaque. A Mostrinha Infantil apresenta títulos voltados ao público jovem, como Só no Sertão, Pés de Peixe e Jorge Quer Ser Repórter. Todas as sessões já estão esgotadas, com cerca de 2 mil crianças da rede pública confirmadas, reforçando o compromisso do festival com a formação de novos públicos e com o acesso à cultura desde cedo.

O festival ainda oferece a oficina “Atuação para Câmera”, com o ator Vinícius de Oliveira, que compartilha sua trajetória inspiradora — da infância na Maré ao estrelato em Central do Brasil. A atividade visa aproximar o público da realidade de quem vive da arte no Brasil e mostrar caminhos possíveis por meio da atuação.

Outro aspecto marcante do festival é o cuidado com o ambiente e a valorização da arte local. A decoração do espaço conta com murais assinados pelo artista plástico Fábio Gomes, com retratos realistas de nomes importantes da cultura e da religiosidade, fortalecendo o sentimento de pertencimento e identidade regional.

Para o homenageado Louiz Carlos da Silva, a realização do evento em Xerém representa mais que uma celebração artística — é uma iniciativa de inclusão cultural. O presidente do Instituto Zeca Pagodinho enxerga o festival como um instrumento para abrir portas a novos talentos da Baixada Fluminense, muitas vezes afastados dos centros culturais tradicionais. Segundo ele, o festival mostra aos jovens da região que o cinema pode ser uma carreira possível e que há espaço para suas histórias serem contadas e vistas.

Já para o ator Antônio Pitanga, o festival simboliza o reconhecimento à luta histórica dos artistas negros e periféricos e a importância de descentralizar a produção cultural. Ele enxerga a realização do festival como um marco para Xerém, com potencial de transformar o distrito em referência no cenário audiovisual brasileiro.

Sérgio Assis reforça que o festival tem se consolidado como um ponto de virada para a região. Com infraestrutura técnica comparável à de grandes festivais, o evento não só atrai olhares para a Baixada como também oferece um espaço legítimo para troca de experiências e formação de redes de produção. Segundo ele, o impacto já pode ser sentido na prática, com ex-alunos da EBAV atuando em produtoras, emissoras de TV e recebendo prêmios e incentivos via leis de fomento como a Paulo Gustavo e a Aldir Blanc.

Com entrada gratuita, o Festival de Cinema de Xerém afirma-se não apenas como uma vitrine para o cinema brasileiro, mas como um instrumento de transformação social, capaz de dar voz, espaço e reconhecimento a quem, historicamente, esteve à margem dos grandes centros de produção cultural. A expectativa agora é que o sucesso da segunda edição garanta fôlego para muitas outras que virão.

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