Médicos alertam sobre os riscos de generalizar o tratamento da obesidade e tomar remédios manipulados para emagrecimento
Com o crescimento da oferta de produtos e tratamentos para perda de peso no mercado, médicos e especialistas trazem à tona a importância de diferenciar o termo “remédios para emagrecer” do termo “medicamento para tratamento da obesidade”. Isso porque, muitos “remédios para emagrecer” são produtos de origem desconhecida, vendidos na internet sem a necessidade de receita, do acompanhamento médico e como uma solução rápida para perda de peso.
Já os medicamentos para tratamento da obesidade, são receitados por especialistas, passaram por anos de estudos com milhares de pacientes, possuem autorização da ANVISA e exigem o acompanhamento médico para resultados eficazes ao longo de meses e para que possa haver a manutenção na perda de peso.
A discussão sobre este tema parte de um novo posicionamento, divulgado no início de setembro, pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) sobre os conceitos e linguagem usados no tratamento da obesidade.
O médico endocrinologista André Vianna, membro da SBEM e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes no Paraná explica que os medicamentos fazem parte do tratamento de uma doença crônica que é a obesidade, e não consiste em uma solução rápida e pontual para emagrecer. “Quando você fala em tratamento para emagrecer, que é um termo popular, a pessoa acha que na hora que emagreceu, acabou o tratamento, porque ela conseguiu o objetivo dela. Além disso, hoje, o que mais vemos são pessoas que não tem obesidade comprando medicamentos destinados ao tratamento, como a Semaglutida, em busca de uma solução rápida para perder alguns quilos, o que pode trazer muitos riscos para a saúde além da recidiva de peso”, explica Vianna.
O endocrinologista reforça que, por ser uma doença crônica, o tratamento da obesidade deve ser mantido a longo prazo e reúne mudança no estilo de vida com hábitos alimentares saudáveis, prática regular de atividade física e uso de alguns medicamentos para ajudar no controle do peso. Quando esses mecanismos não são suficientes para tratar a obesidade, o paciente pode receber a indicação de cirurgia bariátrica.
A cirurgia bariátrica deve ser recomendada como opção para pacientes com níveis mais severos de obesidade ou em casos de obesidade com outras doenças associadas ou agravadas por ela como pressão alta, diabetes, apnéia do sono, problemas articulares, colesterol elevado entre outras.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica no Paraná, Dr. José Alfredo Sadowski, enfatiza a importância da cirurgia bariátrica para tratamento de casos mais severos de obesidade, uma vez que o tratamento cirúrgico é o melhor tratamento em longo prazo para obesidade mórbida. Mas faz um alerta: a cirurgia não é a solução definitiva para o problema, uma vez que, a obesidade é uma doença incurável. Mas se a cirurgia for utilizada junto com mudanças de hábitos, reeducação alimentar e acompanhamento próximo a equipe de médicos, nutricionistas, profissionais de saúde mental e educadores físicos, a chance de sucesso em longo prazo aumenta substancialmente.
“Grande parte das pessoas com obesidade mórbida vão morrer antes dos cinquenta anos e aquelas que chegam até a terceira idade possuem uma qualidade de vida muito ruim. A cirurgia bariátrica é hoje o tratamento mais eficaz para o controle da obesidade mórbida”, explica o cirurgião.
Atualmente, no Brasil, os critérios de indicação para cirurgia bariátrica são:
- índice de massa corporal acima de 40kg/m2;
- índice de massa corporal acima de 35kg/m2 na presença de doenças associadas à obesidade (pressão alta, diabetes tipo 2, apnéia do sono, problemas articulares ocasionados por excesso peso, gordura no fígado, elevados níveis de colesterol, entre outras…)
Medicamentos manipulados
Outro fator que tem preocupado os médicos é o uso de medicamentos manipulados, assim como chás, shakes e dietas milagrosas com a promessa de emagrecimento. Para que um medicamento seja recomendado para o tratamento da obesidade, ele deve ser aprovado pelas agências reguladoras após dezenas de estudos. Comprar medicamentos manipulados para tratamento de obesidade, ou com o objetivo de emagrecer, pode trazer riscos à saúde.
É nesse contexto que a médica hepatologista Claudia Ivantes, do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (CIGHEP), alerta quanto aos riscos dos manipulados e consumo excessivo de ervas e dietéticos para a saúde do fígado. “Os fitoterápicos não apresentam controle sanitário rigoroso e podem também conter elementos na composição não descritos na “bula”. Nem tudo que é dito ‘natural’ é saudável. Esses produtos estão no mercado como suplementos alimentares e não passam por regulamentação da Anvisa. Não há vigilância e controle para saber o que realmente compõe o produto. A maioria das substâncias são ou devem ser metabolizadas pelo fígado, por isso ele é um órgão bastante suscetível à lesão”, explica Claudia.
Um estudo publicado na revista científica Clinical Gastroenterology and Hepatology aponta que cerca de 8% dos casos de lesão no fígado foram atribuídos a fitoterápicos e suplementos dietéticos. Desses, cerca de 83% apresentaram lesão hepatocelular, 66% icterícia (cor amarelada da pele e dos olhos) e 17% desenvolveram insuficiência hepática aguda.
“É necessário que a população esteja esclarecida de que não deve se automedicar ou fazer uso de fitoterápicos sem nenhum cuidado ou supervisão médica. Isso pode ser perigoso não só para o fígado, mas também para outros órgãos, podendo inclusive levar o paciente a óbito”, alerta Claudia Ivantes.