De acordo com pesquisa recente do IBGE, apenas o estado de Roraima tem projeção de dois filhos por mulher em idade reprodutiva
A fertilidade feminina é a capacidade que a mulher tem de dar à luz a um filho biológico. Essa é uma das maiores preocupações de mães que decidem ter um bebê após os 30 anos, que é quando a reserva ovariana decresce para algumas mulheres. Uma pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que a idade média para ter filhos no país é de 27,7 anos, mas as projeções indicam também que essa média deverá atingir 31,3 anos em 2070.
Com ao menos dois filhos por mulher em idade reprodutiva, em 2023, Roraima é o único estado ainda em crescimento populacional. Depois vem Mato Grosso (1,98) e Amazonas segue em terceiro no ranking nacional (1,96). A previsão do IBGE é que a população brasileira comece a diminuir em 2042.
A ginecologista e obstetra Mariana Telles explica que estudos científicos apontam que o período ideal para a mulher ficar grávida é entre os 20 e 30 anos. Após os 35 anos, os óvulos iniciam o processo de envelhecimento, tornando mais difícil o sonho de ser mãe.
“Depois desse tempo, podem surgir alguns problemas de saúde prejudicando tanto a mãe quanto o bebê na gravidez. À medida que vamos envelhecendo, nossos óvulos também envelhecem e com isso ocorre o aumento de óvulos de má qualidade. E eles são incapazes de gerar uma gravidez. A ovulação é essencial para uma gravidez bem-sucedida e a diminuição dessa quantidade de óvulos é a maior dificuldade após a gravidez aos 35 anos, que é quando começa a acontecer a queda da produção desses óvulos”, pontuou a obstetra.
O que é reserva ovariana?
Telles observa que a reserva ovariana é a quantidade de folículos ovarianos presentes no ovário da mulher. Eles são formados desde o embrião. É estimado que a mulher tenha aproximadamente 600 mil óvulos quando ela nasce e essa quantidade de óvulos vai reduzindo, principalmente, após a primeira menstruação.
“É importante que a paciente tenha o acompanhamento, em consultas periódicas, com o seu ginecologista. A diminuição da ingestão de álcool, abandono do tabagismo, combate ao estresse, melhorar a alimentação, prática de exercício físico, além de estudar a possibilidade de congelar óvulos, é fundamental para preservar a fertilidade”, orientou a médica.
Segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), as chances de mulheres que fumam sofrerem com a infertilidade são três vezes maiores quando comparadas com pessoas não fumantes.
Como planejar uma gravidez?
Para o planejamento de uma gravidez saudável, a ginecologista explica que o ideal é ter uma avaliação médica com exames direcionados. “É fundamental a suplementação de vitaminas adequadas, principalmente do ácido fólico e o encaminhamento para o acompanhamento nutricional, abandono do sedentarismo e a prática da atividade física”, orientou Telles.
Mariana Telles também explica que o ideal é que antes de engravidar, a mulher faça todos os exames pré-concepcionais. “São desde exames de sangue, de imagem, imunidade, urina, preventivo, tipagem sanguínea, fator RH, testes sanguíneos de doenças sexualmente transmissíveis, exames hormonais, entre outros. Dependendo da idade da mulher e das patologias, os exames podem mudar dos mais simples aos mais complexos”, alertou.
A médica também observa a importância do exame de espermograma completo, que avalia a qualidade de esperma do homem.
“Nesse exame, mostra se há alteração na quantidade de espermas, na mobilidade e na morfologia. Se houver alterações, o exame é encaminhado para o urologista para que as causas sejam investigadas. Na infertilidade do casal, 50% de chances são de infertilidade masculina e 50% de chance de infertilidade feminina. Nesse contexto, o homem também precisa ser avaliado, não só a mulher”, pontuou.
O uso contínuo de anticoncepcional pode influenciar na gravidez?
Telles informa que o anticoncepcional, seja ele qual forma for, não prejudica na gravidez, muito pelo contrário, muitas vezes, ele trata doenças como o ovário policístico, endometriose, preparando a mulher para engravidar.
“Independentemente do método anticoncepcional que a mulher use, se ela tiver facilidade ou dificuldade para engravidar, o anticoncepcional não vai influenciar nesse contexto. As maiores dúvidas que recebo no meu consultório são sobre tempo para concepção, se é possível a gravidez, se a gravidez poderá ser saudável, sobre suplementação, sobre prática de atividade física, sobre tratamento estético”, disse a obstetra.
Congelamento de óvulos
A obstetra indica o congelamento de óvulos para as mulheres que têm planos futuros para engravidar e sabem que as chances de isso acontecer naturalmente diminuem com a idade. “ A paciente que tem interesse em engravidar daqui a alguns anos, precisa se consultar com um especialista em reprodução assistida, avaliar a reserva ovariana e ver qual a melhor opção para seu caso, o quanto antes. Importante também manter o estilo de vida com atividade física, alimentação saudável, peso adequado, sem cigarro e álcool em excesso são medidas que ajudam bastante a proteger a fertilidade”.
O congelamento de óvulos é uma técnica em que a mulher tem os ovários estimulados com medicações hormonais e o principal objetivo é fazer com que os ovários liberem mais óvulos. “Os óvulos são aspirados do ovário, utilizando um ultrassom transvaginal e coletados para congelamento com o uso no futuro”, explicou.
O exame anti mulleriano é um marcador da reserva ovariana usado em técnicas de reprodução assistida com o objetivo de prever uma resposta inadequada à estimulação ovariana controlada. É coletado pelo sangue e estima a quantidade de óvulos que a mulher ainda possui.
“A maior indicação deles é para as mulheres que desejam conhecer essa condição ovariana. Por exemplo, no caso de mulheres que estão próximas aos 35 anos e ainda não têm filhos e pretendem postergar a gestação, é indicado esse exame. Dependendo do resultado, o especialista vai indicar se é necessário congelar os óvulos ou não, num processo chamado de vitrificação. O anti mulleriano indica a quantidade e não a qualidade. Ter hormônio anti mulleriano baixo não significa que a mulher não possa engravidar, significa que a quantidade de óvulos dela é pequena. Se a mulher pretende ter filhos, ela não tem tempo a perder. Nesse caso o exame é um marcador importante”, concluiu.