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Gisele de Paula leva narrativas pretas e arquitetura expográfica para os Estados Unidos

Foto: Eduardo Ganneto.

Arquiteta carioca embarca para a Filadélfia para compartilhar seu trabalho e ampliar a presença da arte afrodiaspórica em circuitos internacionais.

Gisele de Paula atravessa fronteiras para levar a arquitetura expográfica e as narrativas pretas a novos territórios. Com um trabalho que resgata memórias ancestrais e valoriza a presença negra em espaços expositivos, a arquiteta e pesquisadora carioca embarca para a Filadélfia, nos Estados Unidos, onde participará do evento Designing Blackness in Brazil: future of the Museum, organizado pelo Departamento e Centro de Estudos Africanos do Penn Museum, Universidade da Pensilvânia. Sua jornada internacional reforça a importância da arte como ferramenta política e de reconhecimento das histórias afrodiaspóricas no cenário global.

“A arte é política e não é isenta do que compreendemos como processo e entendimento da história. Pensar expografias, museus e espaços expositivos, é também pensar política e nossos processos históricos”, destaca Gisele.

Durante sua estadia nos EUA, apresentará uma série de exposições individuais e coletivas. Entre elas, estarão “Revenguê: uma exposição-cena”, de Yhuri Cruz, e “Òná Irin”, de Nádia Taquary, que se destacam pela exaltação à ancestralidade e resistência negra. Também será apresentada a exposição coletiva “Raízes”, que atualmente está em exibição no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB), em Salvador, e ressalta o trabalho de artistas pretos e periféricos. Outro destaque é “Eco Malês”, que aborda a Revolta dos Malês e o protagonismo negro na história do Brasil. Além disso, a trajetória da escritora e dramaturga, Leda Maria Martins, também será reverenciada através de uma exposição que enaltece sua trajetória e seu papel no Congado do Rosário de Jatobá.

A arquiteta reforça a importância de sua presença nesses espaços: “A universidade e a formação acadêmica em Arquitetura e Urbanismo são elitistas e historicamente não reconhecem os corpos pretos. Eu me vejo diante de uma arquitetura possível de sonhar, possível de acreditar, de alcançar lugares que não foram pensados para o meu corpo.”

Com uma carreira consolidada na arquitetura expográfica, Gisele se prepara para desafios importantes em 2025, incluindo a exposição “Gordon Parks” no Instituto Moreira Salles e a exposição inaugural do Museu Vila de Vassouras. Em abril de 2024, participou da exposição “Atlântico Vermelho” na sede da ONU em Genebra, Suíça, que reuniu 60 obras de 22 artistas negros brasileiros no contexto do 3º Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU.

Nascida e criada no Complexo do São Carlos, no centro da cidade do Rio de Janeiro, Gisele, aos 35 anos, já projetou 200 exposições, das quais 105 foram executadas e seguem em exibição em cinco estados brasileiros. Seu percurso na arquitetura teve início através de um programa de urbanização das comunidades do Rio, quando percebeu o impacto transformador da arquitetura e da arte.

“Ser uma mulher negra arquiteta de expografia e estar nesses espaços, trazendo uma nova narrativa para a arte e para a arquitetura, é uma grande conquista”, afirma. “Poder estar ao lado de outros grandes nomes construindo essas possibilidades é de um valor imensurável.” Com um olhar que une ancestralidade, arte e arquitetura, Gisele de Paula segue rompendo barreiras e levando narrativas pretas para o centro do debate cultural, tanto no Brasil quanto no exterior.

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