Jornalista que quebrou barreiras no telejornalismo e encantou o Brasil com suas histórias pelo mundo deixa um legado de coragem e representatividade
Por mais de cinco décadas, Glória Maria foi sinônimo de jornalismo, pioneirismo e representatividade na televisão brasileira. A jornalista, que nos deixou em fevereiro de 2023 aos 73 anos, escreveu seu nome na história não apenas como a primeira repórter negra a aparecer ao vivo na tela da Globo, mas também como símbolo de coragem, curiosidade e profissionalismo em um tempo em que mulheres — e especialmente mulheres negras — enfrentavam portas fechadas.
Nascida no Rio de Janeiro em 1949, filha de um alfaiate e uma dona de casa, Glória enfrentou desde cedo o preconceito e as dificuldades para chegar onde chegou. Ainda jovem, ingressou na Faculdade de Jornalismo da PUC-Rio enquanto trabalhava no departamento de rádio da Globo. Conta-se que seu primeiro salário foi usado integralmente para pagar uma máquina de escrever e a mensalidade da faculdade — um reflexo de sua obstinação.
Sua estreia como repórter na televisão aconteceu em 1971, no Jornal Hoje, marcando um momento histórico para o telejornalismo brasileiro: Glória se tornou a primeira jornalista negra a aparecer em rede nacional. Ao longo da década de 70 e 80, participou de coberturas importantes, como a morte do presidente Juscelino Kubitschek, a posse do presidente Jimmy Carter nos Estados Unidos e os carnavais do Rio.
Glória, porém, se tornou mundialmente conhecida pelas reportagens especiais e pelas viagens que realizou. Durante anos, foi o rosto das matérias mais inusitadas e desafiadoras do programa Fantástico. Visitou mais de 100 países, escalou montanhas, caminhou pelo deserto do Saara, entrevistou Michael Jackson, Madonna e Freddie Mercury, participou de rituais indígenas, saltou de bungee jump na Nova Zelândia e experimentou drogas alucinógenas na Jamaica para mostrar a cultura local.



