Músico, compositor, sambista e pintor, Heitor dos Prazeres foi um dos grandes responsáveis por consolidar o samba como expressão cultural do Brasil, sempre ligado às raízes africanas e ao pulsar das comunidades populares.Nascido no Rio de Janeiro, em 1898, Heitor dos Prazeres cresceu em meio ao batuque dos terreiros e à religiosidade afro-brasileira. Desde jovem, mergulhou no universo da música popular e se tornou figura central nas rodas de samba que se multiplicaram no início do século XX. Sua trajetória reflete a própria história do gênero: nascido da resistência, do encontro de tradições africanas com o cotidiano das periferias urbanas.Do violão à caneta: o compositor que deu voz ao povoHeitor foi parceiro de grandes nomes como Sinhô, Ismael Silva e Cartola, além de compor clássicos que até hoje embalam o carnaval. Foi um dos fundadores de escolas de samba e esteve presente nas primeiras gravações do gênero. Sua obra musical resgata elementos da oralidade e das festas populares, conectando o samba às raízes africanas e dando visibilidade às vozes marginalizadas do Rio de Janeiro.O pintor do cotidiano e da cultura negraAlém de músico, Heitor dos Prazeres foi pintor autodidata. Nas telas, retratava o samba, o carnaval, os terreiros e as festas populares com cores vibrantes e traços singulares. Suas pinturas tornaram-se registros visuais da cultura afro-brasileira e são hoje reconhecidas como documentos artísticos de um Brasil que pulsava nos becos, morros e terreiros. Participou da Bienal de Veneza em 1953, sendo celebrado internacionalmente como representante da arte popular brasileira.Samba, carnaval e resistência culturalA importância de Heitor vai além da música e da pintura. Ele foi elo entre o samba e as manifestações culturais de matriz africana, ajudando a legitimar o gênero que enfrentava preconceito e perseguição policial. Seu trabalho mostrou que o samba não era apenas festa, mas expressão de identidade, resistência e memória coletiva.Legado que atravessa geraçõesHeitor dos Prazeres faleceu em 1966, mas deixou um legado imenso para a cultura brasileira. Sua vida e obra mostram como arte, música e tradição popular podem ser ferramentas de afirmação e transformação social. O samba e o carnaval, que hoje são símbolos internacionais do Brasil, carregam em sua essência a contribuição desse artista multifacetado, que soube transformar em música e pintura a alma de um povo.