Por que muitos herdeiros lapidam os seus bens?
Construir um patrimônio sólido leva tempo, estratégia e sacrifício, mas preservá-lo ao longo das gerações exige ainda mais preparo. Mesmo com acesso a heranças robustas, muitos herdeiros enfrentam dificuldades para manter o padrão de vida, ampliar negócios ou evitar conflitos familiares. A falta de planejamento patrimonial e sucessório faz com que fortunas acumuladas por décadas se esgotem em poucos anos. Segundo o IBGE, apenas 30% das empresas familiares chegam à segunda geração e menos de 10% sobrevivem até a terceira. O problema, muitas vezes, não é o valor da herança, mas sim a ausência de uma governança que sustente esse legado com inteligência.
Para o Economista e Especialista em Gestão Patrimonial da Advisor’s Society, Gabriel Senna, o problema começa quando os herdeiros não estão preparados emocional ou tecnicamente para administrar o que recebem. “Falta educação financeira: Não sabem gerir ativos, nem lidar com risco, juros, inflação ou diversificação. Além disso, também costumam fazer confusão entre patrimônio e renda, muitos vendem ativos para manter um padrão de vida em vez de gerar renda passiva. Não fazem planejamento sucessório, se envolvem em disputas familiares e fazem má gestão de empresas herdadas”, pontua.
Ainda que a sucessão costume ser um tema abordado tardiamente, Senna defende que o momento ideal para estruturar a gestão patrimonial começa bem antes da partilha. “Gestão patrimonial precoce permite decisões estratégicas em alocação eficiente de capital, proteção jurídica e fiscal (ex: holding familiar, testamento, seguros), educação financeira das próximas gerações, planejamento sucessório estruturado (evita disputas e perda de valor). Começar apenas após o crescimento geralmente leva a estrutura tributária ineficiente, riscos maiores de perda, conflitos ou má alocação. Por isso, é importante não deixar para depois”, explica o especialista.
Segundo ele, um dos erros mais recorrentes de famílias que acumulam bens é acreditar que o patrimônio fala por si. “Sem definição de papéis, herdeiros despreparados assumem funções críticas, gera conflitos e má gestão. Outra questão também é a ausência de comunicação entre gerações. A geração atual evita falar sobre herança”, destaca Gabriel.
Para garantir a perenidade do legado, Gabriel defende a criação de um ecossistema familiar alinhado, em que objetivos, investimentos e estrutura de gestão estejam conectados. “O primeiro passo para uma boa gestão patrimonial é realizar um diagnóstico completo da situação da família. Isso envolve mapear todos os ativos, passivos, riscos e entender o perfil financeiro dos membros, além de avaliar a liquidez, a concentração dos investimentos e a sustentabilidade da carteira no longo prazo. A partir desse levantamento, é possível definir objetivos familiares claros para o curto, médio e longo prazo, como geração de renda, segurança financeira, construção de legado ou projetos de filantropia. Com base nessas metas, recomenda-se a criação de um protocolo familiar, que consolide valores, missão e visão em torno do patrimônio, garantindo alinhamento entre gerações e decisões mais estratégicas”, finaliza o Gestor Patrimonial Gabriel Senna.