Representantes do povo Munduruku, organizados pelo Movimento Ipereg Ayu, bloquearam na manhã desta sexta-feira (14) o acesso principal à Blue Zone da COP 30, em Belém. A segurança no local foi reforçada, sobretudo pelas Forças Armadas.
Participantes e delegados da conferência precisaram aguardar do lado de fora, e filas se formaram na entrada. Uma via alternativa, normalmente utilizada como saída do evento, chegou a ser preparada, mas pouco depois das 9h30 o acesso principal foi liberado. Ainda assim, houve demora para que todos conseguissem entrar na área, e voluntários distribuíram água para amenizar o calor.
Os indígenas foram encaminhados para uma reunião com o presidente da Conferência, André Corrêa do Lago, e com a ministra dos Povos Indígenas. Por volta das 11h, um novo grupo retornou ao local e voltou a fechar o acesso principal da Blue Zone. Outro portão foi aberto, e os participantes passaram a usar a entrada alternativa.
O ato teve como objetivo exigir uma reunião urgente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a revogação do Decreto nº 12.600/2025, além de medidas de proteção contra grandes empreendimentos em terras indígenas.
O decreto institui o Plano Nacional de Hidrovias e estabelece os rios Tapajós, Madeira e Tocantins como eixos prioritários para o escoamento de cargas — uma das principais pautas de contestação dos manifestantes.
Os Munduruku afirmam que a medida “abre a porteira” para novas dragagens, o derrocamento de pedrais sagrados e a expansão acelerada de portos privados, com impactos ambientais e sociais considerados irreversíveis.
A manifestação ocorreu nas imediações do centro de convenções e denunciou o avanço de projetos federais de infraestrutura que afetam diretamente territórios Munduruku e de outros povos das bacias do Tapajós e Xingu.
Segundo os indígenas, essas iniciativas são realizadas sem consulta prévia, livre e informada, como determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Em nota, o Movimento Munduruku Ipereg Ayu informou ainda que o protesto também se posiciona contra projetos de crédito de carbono e mecanismos de REDD+ jurisdicional, em debate na COP 30 e em negociações governamentais.
Para o movimento, tais propostas representam uma espécie de “venda da floresta”, retirando autonomia dos povos indígenas e abrindo caminho para a atuação de empresas e intermediários em seus territórios. Eles afirmam que essas iniciativas não enfrentam as causas estruturais da crise climática, como o desmatamento industrial, o garimpo ilegal, a construção de hidrovias e a expansão da monocultura de soja.





