Pioneiro na luta contra o estigma racial, Moreira introduziu práticas inovadoras e humanizou o tratamento das doenças mentais no país.
Juliano Moreira, nascido em 6 de janeiro de 1872 na Bahia, foi um pioneiro na psiquiatria brasileira. Cresceu em uma família pobre e enfrentou desafios significativos para ingressar na faculdade de Medicina aos 14 anos, formando-se com uma tese de impacto internacional sobre a sífilis. Sua carreira foi marcada por uma luta contra as teorias racistas e cientificamente questionáveis de seus contemporâneos, como as de Nina Rodrigues, que associavam doenças mentais à mestiçagem. Moreira defendia que fatores como álcool, sífilis e verminoses eram os principais causadores de doenças mentais, desafiando as crenças predominantes.
Ele também questionou a ideia de que o clima tropical causava doenças mentais exclusivas, posicionando-se contra essa visão racista. Durante sua carreira, Moreira foi pioneiro na psiquiatria no Brasil, atuando no Asylo São João de Deus, onde contribuiu para o desenvolvimento de práticas psiquiátricas mais humanizadas. Entre 1895 e 1902, viajou para a Europa, onde teve contato com as principais escolas de psiquiatria da época, consolidando seu conhecimento.
Filho de Galdina Joaquina do Amaral, que trabalhava na residência do Barão de Itapuã, o médico e professor da Faculdade de medicina Luís Adriano Alves de Lima Gordilho. Foi criado pela mãe, e reconhecido posteriormente pelo pai, o português Manoel do Carmo Moreira Junior, um funcionário público que atuava com inspeção de iluminação. Ele se casou com a enfermeira alemã Augusta Peick, com quem teve filhos.
Quantas são as raças? Onde termina a raça branca? Onde começa a amarela? Onde acaba? Onde começa a preta?”. Esses questionamentos foram feitos pelo médico Juliano Moreira em 1891 ―época em que a escravidão ainda estava vigente no Brasil―, quando tinha apenas 18 anos, em sua tese inaugural para conclusão do curso da Faculdade de Medicina na Bahia, conforme descrito em artigo do pesquisador Ronaldo Ribeiro Jacobina.
Moreira é considerado o introdutor de inúmeros estudos clínicos no Brasil, impulsionou a criação de laboratórios em hospitais e clínicas e foi precursor da psicanálise, numa época em que ainda não se discutia Freud no Brasil. Foi responsável por transformações no modelo de atendimento psiquiátrico, com enfoque mais humano.
Morreu em 2 de maio de 1933, em consequência da tuberculose, na cidade de Petrópolis. Juliano Moreira é o patrono da cadeira 57 da Academia Nacional de Medicina. Em 2001, a Congregação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia aprovou a criação do Prêmio Juliano Moreira, que contempla, a cada semestre, o graduando em medicina que apresente as mais expressivas atividades de extensão ao longo do curso. Para preservar sua memória, foi criado o Memorial Juliano Moreira, como um setor do hospital psiquiátrico que leva seu nome em Salvador.