Aos 90 anos de idade, Elza Soares é consagrada na Marquês de Sapucaí, na madrugada desta terça-feira (24). Enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel, a mulher pobre da comunidade de Vila Vintém, localizada entre os bairros de Realengo e Padre Miguel, na Zona Oeste da capital fluminense é reverenciada na grande “Passarela do Samba”.
“Vencer a dor, que esse mundo é todo seu
Onde a água santa foi saliva
Pra curar toda ferida
Que a história escreveu”
Uma vida marcada pela luta e sofrimento, Elza Soares venceu por com garra e a força de nunca desistir de viver. Mulher negra, pobre, de comunidade, vítima de tantos preconceitos viu sua trajetória ser contada ao mundo, através do enredo “Elza, Deusa Soares”, samba composto por Sandra de Sá e Jack Vasconcelos, assinando como carnavalesco da agremiação.
Aplaudida, a menina humilde, que cantarolava o som do “Louva-a-Deus” subindo as ruelas da comunidade, trazendo na cabeça, a “lata d’agua” trazida na abertura do carro abre alas. Eleita personalidade do carnaval e ganhadora do Estandarte de Ouro 2020″, Elza provocou grandes reflexões na avenida, porém, muito atrasada, a escola precisou correr para encerrar o desfile dentro do horário.
“É sua voz que amordaça a opressão
Que embala o irmão
Para a preta não chorar (para a preta não chorar)
Se a vida é uma aquarela
Vi em ti a cor mais bela
Pelos palcos a brilhar”
Em 1953, Elza resolveu enveredar pela música, participando como cantora no programa Calouros em Desfile, apresentado por Ary Barroso na Rádio Tupi, que de forma iônica perguntou a caloura de qual planeta era teria surgido. Forte e destemida, ela responde: “Do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do Planeta Fome”.
Elza, que deu voz a muitas mulheres, é considerada o símbolo da resistência negra na atualidade. Viva, ela!