A infantilização da sociedade contemporânea é tão estarrecedora que a tradicional ideia da maldade simbolizada pelo demônio cristão virou sinônimo de galhofa generalizada.
Basta que alguém fale a palavra demônio, pecado, inferno na mesa do almoço de domingo junto à família que imediatamente ouviremos risos estridentes ou piadinhas e ironias sem fim.
Está concepção infantil sobre o significado da maldade só reforça a regressão absurda que assistimos a olhos vistos não só no mundo do entretenimento em geral, mas particularmente no que tange às chamadas elites culturais.
De fato muitos desavisados acreditam mesmo que o demônio seja um ser caricato com dois chifres e um rabinho balançando que fica cutucando as nádegas rechonchudas dos condenados à perdição no Hades.
Ora a questão sobre a anatomia da maldade humana é seríssima e só é menos importante do que as reflexões sobre a morte e o destino misterioso da alma depois de vaguear por esse vale de lágrimas que caracteriza em boa medida nossa habitação terrestre.
Mas o que é realmente o mal representado iconograficamente pelo belzebú ou pela sombra preconizada pelo psicólogo suíço Jung?
O mal antes de mais nada é aquela voz interior traiçoeira e ardilosa que vive dizendo no calor de nossas horas inseguras: “ tá vendo você é um fracassado, ninguém gosta da sua companhia, seu inútil, você é digno de pena” etc.
O mal, com efeito, é este SER substantivamente potente que nos confronta sempre que estamos com a imunidade espiritual baixa, sem capacidade de reação.
Ele nasceu mesmo para isso: destruir, deprimir, ofender, macular, é intrinsecamente invejoso e prefere a morte à vida, aliás, ele odeia tudo que floresce que alegra a existência, que transborda sinceridade de coração.
Numa palavra o mal simbolicamente representado pelo demônio cristão é tudo aquilo que nos afasta da luz da criação e do seu amor maravilhosamente coevo.