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Lâminas do Cotidiano: Deus Absconditus – Parte II

Religião portanto deve ser entendida como uma construção humana vinculada aos meandros e vicissitudes atinentes ao poder estabelecido e eivada por doses generosas de alienação e manipulação humanas.
Sociólogos de jaez marxista, antropólogos estruturalistas e psicanalistas têm atacado esse caráter fetichizante das religiões.

Só deveríamos acrescentar a título de provocação intelectual a impressionante recorrência desse instituto sagrado na história humana… praticamente não há uma só civilização conhecida que não tenha articulado um nodal sistema de significados religiosos!

E talvez seja algo presunçoso chamarmos essas civilizações, in totum, de alienadas…porque estaríamos excetuando apenas a nós mesmos como esclarecidos, é claro, nós que lemos Nietzsche na academia… e analisamos o homem de um ponto de vista absoluto…

No que concerne à ideia de Deus a questão é bem mais complexa! Foi Santo Tomás, entre tantos outros, que falou em um Deus absconditus, ou seja, um Deus incompreensível às categorias racionais humanas e mergulhado em equívocos dado o nominalismo inerente aos nossos sistemas linguísticos de significação ontológica.

Se conjecturarmos um Deus, devemos fazê-lo sabendo que ele é inteiramente outro de Rudolf Otto ou o tu eterno de Martin Buber, ou seja, sua potência não cabe nos limites da racionalidade noética do homo sapiens criatural.

Foi Martin Heidegger quem nos ensinou no século XX (tomando de empréstimo o pensar autêntico de Heráclito e dos pré-socráticos) que o SER é ALETHÉIA…ele nunca é algo circunscrito pela sensibilidade do tempo, espaço e causalidade (os famosos transcendentais Kantianos) mas o SER dá-se, desvela-se para, pari passu, esconder-se imediatamente num processo de misteriosa ocultação.

Noutras palavras, o SER nunca é, porque se o fosse seria apenas ENTE e não o próprio SER.

Em nosso mundo, onde o homem foi reduzido à pavorosa categoria de ser calculador, onde grassam o poder e a maquinaria do mundo capitalista a lhe sonegar o desejo de vida autêntica, nesse labirinto kafkiano, talvez discutir religião seja algo sério para nos acautelarmos em relação às imposições alienantes do poder instituído.

Mas para falarmos sobre Deus, o Deus absconditus dos filósofos, será preciso outra disposição para cuidar do mundo e curá-lo.

Dá-sein não é subjetividade, não é racional nem calculador, não é ser humano como quis o mundo ocidental desde a metafísica Platônica.

Dá-sein é aquele que ouve os sons do silêncio e se espanta como um redivivo Alberto Caeiro a contemplar a luz do sol e estender-se no jardim à espera de uma nova criança a lhe estender as pequeninas mãos…

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