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Lâminas do Cotidiano: Tomates vermelhos e goiabas maduras

Estou indo à feira de São Patrício em Minas Gerais. Lá vou encomendar tomates vermelhos e goiabas maduras. 

Já caminhei por aquelas plagas altaneiras mais de uma vez. Se acaso alguns de vocês saudarem uma velha senhora de cabelos platinados, diga-lhe que usei por dez anos a camisa de linho branco que ela fez com as próprias mãos.

Se acaso alguém visitar a casa de uma mulher de olhos claros e sorriso amável, estenda as mãos em sua direção e tente sentir a maciez da sua pele branca. Diga à filha solitária que ela foi o amor da minha vida. Presenteie-a com os bons frutos do lugar e observe sua face enrubescer diante das maravilhas suculentas e terrosas.

Tenho a lembrança da timidez ainda bem viva dentro das entranhas.

Óh, faça-me este favor! E tente dizer o meu nome baixinho só para contemplar a reação da sua alma indócil. 

Sentirá saudades? Dará de ombros, indiferente à minha lembrança? Ou se assustará com a luz da presença repentina?

Relate a ela que devaneei pelo grande mundo das desavenças. E vi cidades, enchentes, festas de final de ano, trabalho cotidiano, mortes e doenças, vida esplendorosa no deslizar incessante dos cães e das formigas.

Conte que levei comigo durante a fuga, a desgastada mochila roxa fosforescente que ela tanto gostava e o fone de ouvido que ganhei de presente, mas jamais usei. E que cantei alto e bom som, pelas estradas escarpadas da América, as velhas músicas do poeta Paul Simon.

Mas sobretudo, fale que senti o cheiro da mata exuberante inundando meus pulmões e que estremeci, uma vez mais, evocando o aroma dos tomates vermelhos e das goiabas maduras, misturando-se como irmãs siamesas na feira de São Patrício em Minas Gerais.

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