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Lideranças de Barra e Recreio criticam projeto que libera construção de prédios em shoppings e supermercados

Foto Márcia Foletto

Bairros da Zona Sudoeste seriam os mais afetados pela proposta, que autoriza empreendimentos residenciais e comerciais sobre áreas de grandes comércios. Associação de Jacarepaguá, porém, enxerga pontos positivos na medida.

Lideranças comunitárias da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes reagiram com preocupação ao novo projeto de lei em discussão na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que prevê a autorização para construção de prédios residenciais e comerciais em áreas atualmente ocupadas por shoppings, supermercados e outros grandes estabelecimentos.

A proposta, que altera parâmetros urbanísticos de diversos bairros da cidade, tem gerado intenso debate especialmente na Zona Sudoeste, onde o tráfego já é um dos principais problemas enfrentados pelos moradores. Representantes de associações de moradores afirmam que a iniciativa pode agravar o adensamento populacional e comprometer a qualidade de vida da região.

“Já vivemos um colapso viário em horários de pico. Inserir novos empreendimentos sem infraestrutura adequada é ignorar a realidade local”, afirma uma das lideranças do Recreio, destacando que os shoppings e hipermercados foram projetados para atender o comércio, não para receber torres residenciais.

“Transformar o comércio em condomínio não é planejamento”

Entre as críticas mais recorrentes está a falta de estudos de impacto ambiental e urbanístico. Moradores temem que o aumento da densidade traga sobrecarga ao transporte público, à rede de água e esgoto e aos serviços de saúde e educação. “Transformar o comércio em condomínio não é planejamento urbano, é improviso”, resume um representante da Barra da Tijuca.

Especialistas em urbanismo também apontam que a flexibilização indiscriminada pode gerar um efeito em cadeia, incentivando construções verticais em áreas que deveriam funcionar como polos de lazer e circulação. “Esses espaços são pulmões urbanos, locais de respiro. A mudança de uso pode eliminar essa função”, alerta uma arquiteta da região.

Associação de Jacarepaguá vê possíveis benefícios

Em contrapartida, parte das lideranças de Jacarepaguá se mostrou mais receptiva à proposta. Para a Associação de Moradores e Amigos de Jacarepaguá (Amaja), o projeto pode representar uma oportunidade de revitalização de áreas ociosas e incentivo à moradia próxima a centros comerciais.

“Desde que haja contrapartidas claras e respeito aos limites de infraestrutura, pode ser um caminho para reduzir deslocamentos e gerar empregos locais”, afirmou a entidade em nota.

Próximos passos e pressão popular

O projeto ainda será debatido em audiências públicas, e o resultado pode depender da mobilização dos moradores. Líderes comunitários planejam encaminhar abaixo-assinados e participar das sessões da Câmara para pressionar por alterações no texto.

Enquanto o debate avança, a questão central permanece: como equilibrar crescimento urbano e qualidade de vida? Para muitos, a resposta não está em empilhar edifícios sobre o comércio, mas em pensar uma cidade que cresça com planejamento, sustentabilidade e diálogo com quem nela vive.

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