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Livro “Método Burburinho de Produzir Cultura” chega para mostrar o trabalho de profissionais de produção cultural

Foto: ASCOM

Pioneiro por reunir teoria e prática em análises sobre projetos em Cultura, o livro documenta estudos de caso de 15 projetos ao longo dos primeiros 15 anos de trabalho de seus pesquisadores

Priscila Seixas e Thiago Ramires, do Instituto Burburinho Cultural, lançam o livro “Método Burburinho de Produzir Cultura”. O objetivo é compartilhar com público multidisciplinar, formado por especialistas, autoridades, pesquisadores, educadores, empresários e leigos, resultados, análises e ideias de como se torna possível permanecer, ao longo de quase 18 anos, na atividade vigorosa (e surpreendente) da produção de projetos de Educação e Cultura no Rio e em todo o Brasil através das leis de incentivo.

O livro (Ed. Casa Editorial, 91 páginas, R$ 49) é um documento incomum do setor Educação e Cultura, por constituir memória de projetos realizados em teatros, ao ar livre, em periferias ou no centro, em equipamentos culturais ou no espaço público. O livro é também rara publicação a desmistificar, através de acertos ou não, a realidade de quem trabalha com leis de incentivo e recursos públicos. Como fio condutor, o público fica a par de atividades que ampliam saberes na sociedade brasileira. A Burburinho Cultural conquistou o Prêmio Atitude Carioca em 2022 com o projeto Casa Escola de Arte e Tecnologia CEAT, e o Prêmio Rio Sociocultural, em 2011, com o projeto “Cordel com a Corda Toda”.

O Instituto Burburinho Cultural, sediado no Rio de Janeiro, busca sempre demonstrar as possibilidades de geração de conhecimento e desenvolvimento humano e econômico para ampliar tecnologias sociais no Brasil a partir da Cultura. Como explica o diretor de projetos Thiago Ramires. “Cada projeto que sai do papel impacta as vidas de centenas de pessoas e contribui para a aceleração e para o desenvolvimento social, cultural e econômico do Brasil em educação, tecnologia, saúde, sustentabilidade e diversos outros setores. Por isso, debater o investimento em cultura é trazê-la para uma centralidade necessária”, enfatiza Thiago Ramires, formado pela faculdade de Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense e mestre pela UFRJ.

O Instituto Burburinho, que passa a estar mais atuante e amplifica a presença da produtora no Terceiro Setor com a perspectiva de acelerar a realização de projetos em andamento, como o Criar Jogos Labs, com polos no Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Paraná e São Paulo. Além de implantar o inédito “Engenhoka”, impulsionador de aulas de robótica combinadas com artes visuais através da Cultura Maker (de estímulo à invenção e inovação) para alunos da rede pública em todo Brasil, o “Teatro Arena Viva”, voltado à autoestima de meninas negras e a segunda edição do “Proje7o Arco-Íris”, que promove a um só tempo a imersão de estudantes na arte do graffiti e a criação de pinturas nas fachadas de escolas de todo o Brasil.

A professora Dra. em Mídia e Cotidiano pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Priscila Seixas analisou em sua tese de doutoramento o tema “A midiatização da Lei Rouanet”, acerca da marginalização da classe de trabalhadores da Cultura após a CPI da Lei Rouanet que, juntamente com a pandemia de Covid-19, colou na cadeia produtiva – de técnicos a artistas – o estigma próximo ao de usurpadores dos cofres públicos. Recentemente, participou da Rio Innovation Week (RIW) e da Semana de Inovação na Escola Nacional de Administração Pública, em Brasília, falando sobre o tema “Cultura, games e inovação: gamificando pedagogias”. “Dentro e fora da sala de aula, como CEO da Burburinho, é constante o exercício de refletir sobre cidadania e implementar formas de conseguir inovar para melhorar o futuro da sociedade no Brasil”, analisa Priscila Seixas, carioca do bairro da Tijuca, Zona Norte da cidade.

Formado em produção cultural pela UFF e mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o diretor de projetos Thiago Ramires, conjuga com Priscila Seixas o entusiasmo em estruturar a dimensão social de todas as atividades desde o início. “Debater o investimento em cultura é pensar no futuro do Brasil”, pontua Thiago, cria de Campo Grande, Zona Oeste da cidade. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados pelas Nações Unidas em setembro de 2015 para implementação até 2030, colocam a Cultura como parte fundamental na construção de um futuro diverso, inclusivo e sustentável. Nesse sentido, a Cultura tem papel mediador, sendo a costura que interliga diferentes realidades setoriais. É a partir da criatividade e do espírito inovador que podemos fazer a roda girar e, assim, impactar na sociedade como um todo. A Burburinho Cultural acredita em processos de transformação social através da interlocução de espaços sociais, principalmente entre setor público, mercado e universidade.

Priscila Seixas destaca aspectos sobre a ONG que vai atuar mais dinamicamente, a partir de 2024, em paralelo à produtora. “Estamos iniciando a implantação do projeto Engenhoka, que é um projeto relacionado com a Cultura maker. Com o Instituto, vemos possibilidade de novas modalidades de cooperação técnica com a administração pública, parcerias com Institutos Federais, como o Instituto Federal da Bahia, com a secretaria de Educação do Ceará, capilarizando ainda mais os projetos no interior do Brasil. Realizamos um projeto em Selvíria, Mato Grosso do Sul, cidade com 10 mil habitantes, da mesma forma que implantamos a Casa Escola Arte e Tecnologia, em Itaboraí, funcionando há dois anos com ações profissionalizantes e artísticas.

Sobre o livro

O livro “Método Burburinho de Produzir Cultura” tem 91 páginas, é dividido em 5 capítulos. “Fatos históricos das duas últimas décadas do século XX e das duas primeiras do século XXI, por si, já justificariam a ideia e o argumento: editar em livro uma metodologia de trabalho praticada no território da produção cultural no Brasil. Ora, a inconstância de investimentos em patrocínio continuado e editais de fomento público a Economia da Cultura/Indústria Criativa é instigante o suficiente para demonstrar ao público em geral e ao profissional de Gestão Cultural como torna-se possível a construção do caminho que materializa exposições, escolas de educação digital, centros de saberes diversos, sempre à serviço da sociedade”.

Fundada em 2006, a Burburinho é uma empresa vocacionada e especializada em criação, planejamento, gestão e realização de projetos culturais por meio de recursos públicos, diretos ou indiretos. O livro faz o percurso cronológico da produtora a partir de seu momento inaugural, o ciclo de debates “Marginais e Heróis: 50 anos do manifesto neoconcreto no Brasil”, realizado em 2009 no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ). A construção da Burburinho entrecruza caminhos, todos convergindo para Niterói, onde está a histórica Universidade Federal Fluminense, que detém o pioneirismo de fundar o primeiro curso de Bacharelado em Produção Cultural em 1995, com a primeira turma a partir de 1996.

No cenário mundial impulsiona a energia dos universitários reunidos no início dos anos 2000. É que em 2006 a Coreia do Norte anunciava seu primeiro este nuclear; no Iraque, Saddam Hussein era condenado à morte; favorita para o hexa, a Seleção Brasileira perde a Copa da Alemanha para a França; o presidente Lula disputa e conquista a reeleição; a Lei Maria da Penha promove histórica mudança de paradigma ao criminalizar a violência contra a mulher. “É neste contexto que um grupo de amigos, universitários de Produção Cultural da UFF decide empreender. Cada um com a própria visão do fazer cultural com sonhos e projetos únicos”, descrevem os autores na introdução.

Ao longo do tempo de trabalho até agora, a Burburinho Cultural geriu equipamentos públicos, dirigindo a programação da Sala Sidnei Müller e Sala Guiomar Novaes, do Teatro Cacilda Becker e da Sala Baden Powell. Além de sempre estar às voltas com projetos no espaço público. O Festival Internacional de Danças Urbanas do Rio de Janeiro (Rio H2K) ocorreu em 2011 e 2012. A Burburinho realizou o primeiro “kemps” de danças urbanas da América Latina, tendo como referência os festivais de danças urbanas que acontecem em todo o mundo, com ênfase na Europa. A ideia partiu do dançarino carioca Bruno Bastos: fazer um festival de dança de rua no Rio de Janeiro em que os participantes acampassem no lugar em que aulões e batalhas de hip hop fossem acontecer, em outras palavras, os “kemps”.

A Burburinho deu os contornos da iniciativa que teve como parceiros instituições de cultura pública e também parceiros da iniciativa privada. Outro marco foi Multidança Big Dance Rio, de 2012, integrado às Olimpíadas Culturais e aos Jogos Paralímpicos, ocorrendo simultaneamente em Londres, sede dos Jogos Olímpicos de 2012, Pequim, sede das Olimpíadas de 2008 e no Rio de Janeiro, palco do maior evento desportivo do planeta em 2016. A Big Dance, grande dança coreografada por multidões em lugares como museus, shoppings, estações de ônibus e trens, reuniu os coreógrafos Renato Vieira (diretor artístico), Alex Neoral e Renato Cruz no projeto Multidança. Mais de 500 pessoas participaram da iniciativa que ocorreu na Praça Tiradentes. O vídeo foi exibido na abertura dos Jogos Olímpicos de 2012. “Neste ponto do livro mostramos como a Produção Cultural e a Articulação Internacional se relacionam apresentando sempre, em cada capítulo, uma lista de prós e contras. Nossa relação triangula com artistas e patrocinadores, estamos sempre, desde o início, atentos à democratização, descentralização e transformação a cada projeto”, define Thiago Ramires.

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