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“Maluco Beleza”

Desta mesma janela, a mais de vinte anos atrás Claudio Alberto Andrade de Azeredo, filho da Sra. Juracy Andrade de Azeredo e do Sr. Ederto Vargas , jornalista, redator( amigo de Assis Chateaubriand e de infância de Abelardo Barbosa o “Chacrinha” ),  carioca da gema, nascido no Catete-Rj, na Casa de Saúde São Sebastião, encerrava o Fantástico cantando uma de suas maiores criações, da parceria com o inesquecível  amigo Raul Seixas, “Maluco Beleza” .

Uma amizade que começou, quando ainda jovens, no Rio de janeiro e que  foi se fortalecendo com o  passar dos anos até se tornarem, além de grandes amigos,  parceiros em 30 composições gravadas e outras  tantas inéditas. Claudio costuma dizer que o fato de serem parceiros foi só uma decorrência do fato de serem amigos; nos compreendíamos muito, a ponto dos nossos conhecidos dizerem que Raul era um extraterrestre e eu era o único que falava a sua língua, tamanha a nossa cumplicidade. Uma parceira que teve inicio no álbum ” O Dia em que a Terra Parou” onde Claudio foi coautor de grande parte das faixas do disco. Claúdio Roberto A. De Azeredo foi um dos principais parceiros de Raul Seixas e foi, sem dúvida alguma, com a música “Maluco Beleza” que ele deixou seu nome registrado e confirmado na história da nossa música popular brasileira.

JORNAL – COMO FOI A TRAJETÓRIA DO CLAÚDIO ATÉ A MUSICA?

Eu trabalhava bastante, dava aulas particular de português e inglês, fazia Faculdade de Educação Física, pela manhã, no Fundão, fui o primeiro personal training que se conhecia. Eventualmente, dirigia um taxi na madrugada e, ainda, vendia   sapatos de mocassim, na Feira Hip de Ipanema, aos domingos. Um dia chegando em casa, encontro Raul de terno   à mesa com a minha primeira esposa, Marcia. Estamos aqui conversando e chegamos a conclusão que você gasta muito tempo se dividindo entre muitas coisas. Você trabalha muito e, então, resolvemos cortar sua carga horária a menos da metade para que você possa se dedicar naquilo em que você é bom. Perguntei, o que seria isto?  Raul respondeu música é claro. Aí mudou minha vida mesmo.

JORNAL – DENTRE TODAS AS COMPOSIÇÕES GRAVADAS EM PARCERIA COM RAUL! A QUE MAIS SE DESTACOU?

Na verdade, a que mais se destacou e que eu nao acreditava muito, mas Raul com sua visão e conhecimento, meio que profetizou o sucesso, foi mesmo “Maluco Beleza”. Fugiu do controle, tínhamos a impressão de que ela já estava feita e que nos fomos apenas o veículo.

JORNAL – A MUDANÇA DO RIO DE JANEIRO PARA MIGUEL PEREIRA?

Já casado com Angela, filha da atriz Isolda Cresta, resolvemos vir passar nossa lua-de-mel na região. Pedimos licença dos nossos trabalhos, eu como professor de natação e ela atriz de teatro. Passados 15 dias que já estávamos aqui eu disse para a Angela: você não sabe, mas eu vou ao Rio buscar minhas coisas e volto para morar aqui. Uma decisão que foi reforçada pelo Raul que me disse, já que você quer ir morar no interior esta é a hora, porque depois você não irá conseguir. Prevendo o sucesso. Isto foi em 1977, exatamente, 44 anos atrás

JORNAL – RAUL VINHA COM FREQUÊNCIA A MIGUEL PEREIRA?

Não era com a frequência que gostaria que fosse, Assim, como minha querida mãezinha, Raul detestava mato. Mas existe um fato bastante engraçado, hoje, de uma de uma de suas vindas a minha casa.

Raul era uma pessoa absolutamente impossível e difícil de encontrar alguém semelhante. Estávamos compondo havia uns três dias e quando acabou o combustível eu fui dormir. Mas Raul se recusava e resolveu sair para dar uma volta pelas redondezas com a minha matilha, cachorros de médio porte grande e grande. Como neste dia, especialmente, fazia muito frio ele saiu com o casaco de pele, de sua sogra, de um valor em dólar bastante considerável. No dia seguinte o resultado desta saída era uma fila de vizinhos reclamando dos palavrões do Raul, das investidas dos cachorros contra os animais e a cobrança de um dos vizinhos de 4 a cinco de suas ovelhas, abatidas pelas supostas feras. Sem contar que o casaco de pele de sua sogra estava todo estraçalhado. Foi um acontecimento.

JORNAL – VOCES TINHAM ALGUMA REGRA PARA COMPOR?

Vou te dar uma resposta que todo compositor te daria. Não existe regras. Já aconteceu de começarmos a compor uma música por causa de uma expressão e, pode parecer absurdo, terminarmos com outra expressão.

JORNAL – CLAÚDIO E O ATUAL CENÁRIO MUSICAL?

Não gosto de fazer comentários a respeito do nosso cenário musical por achar que isto seja antiético. Devemos respeitar a opinião das pessoas.  Seria maravilhoso se tivéssemos a mesma opinião, mas seria muito chato. Falaríamos ou discutiríamos sobre que.  

JORNAL – BANDA CARBONO 40 E CLAUDIO.

Eu costumo dizer que família você não escolhe você vai com ela e Bruno, vocalista da banda é como um irmão. Estamos fazendo algumas coisas juntos. Segundo Bruno a amizade entre eles foi muito desejada e esperada, porque, além da grande admiração pelo artista e pela sua obra, está sendo uma grande oportunidade de juntos estarem tirando do baú composições inéditas do Claúdio.

JORNAL – TRABALHO, MUSICA E MEDO.

Trabalho eu nunca gostei mais se tiver que fazer por uma boa causa trabalho até de graça. A musica caiu no meu colo é o que melhor sei fazer. Medo tenho de não me divertir.

O Jornal DR 1 presta sua homenagem ao grande artista que no 29/10/22, vítima de complicações pós- cirúrgica, conclui sua trajetória, neste plano, para ir ao encontro da luz, dos parentes e do amigo e parceiro Raul Seixas. Foi uma grata satisfação de termos sido muito bem recebidos, em sua propriedade, pelo Claudio que além de parceiro do Raul Seixas, era pai de cinco filhos e avô de alguns netos, é também um grande admirador de um bom café. Nos dando a honra de assistirmos todo um ritual para torrar os grãos, moer e coar o café, de sabor inigualável, servido pelo nosso anfitrião. O Jornal DR1 e toda sua equipe registra nossas condolências aos familiares e o nosso muito obrigado ao artista.

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