Manuel Congo era um negro forte, habilidoso e de pouca fala. Exercia a profissão de ferreiro, oficio que lhe dava status superior entre os outros escravos e maior valor econômico perante aos senhores. Pertencia ao Capitão-Mor de Ordenanças Manoel Francisco Xavier, rico proprietário e dono das fazendas, em Paty do Alferes- RJ, Freguesia (atual aldeia de Arcozelo), Maravilha e Sta Tereza. Era casado com Francisca Elisa Xavier, Baronesa da Soledade. Ele, entrou para a história da região e do Brasil, como sendo o líder que desestruturou e estremeceu os, até então sólidos, alicerces do regime escravocrata fluminense nas terras do café.
Foi em Paty do Alferes-RJ que se desenrolou um dos mais importantes levantes de negros do Estado do Rio de janeiro, motivado, inicialmente, pela revolta contra a morte de um dos escravos de Manoel Francisco Xavier, Camilo Sapateiro, pelo capataz de uma de suas fazendas. A rebelião teve inicio no mês de novembro de 1838, a meia noite, quando as portas das senzalas da Fazenda Freguesia eram arrombadas. Manuel Congo e sua companheira Mariana Crioula iniciavam, naquele instante, a saga que os levariam à história e para ele o caminho da morte.
Os escravos liderados por ele, resolveram fazer justiça pelas próprias mãos. Invadiram a Fazenda da Maravilha, mataram o feitor, expulsaram todos, destruíram a sede e atearam fogo no engenho. fundaram nas matas de Sta Catarina (hoje Vale das Videiras) a comunidade Quilombola de Manuel Congo. Tinha, aproximadamente, 300 a 400 escravos em seu comando. conquistaram fama e temor entre os fazendeiros. Toda semana se aventuravam, nas senzalas, no período noturno, para libertar os cativos (o verdadeiro irmão do quilombo). Também eram saqueados viajantes de quem roubavam armas e alimentos.
Não demorou para que os fazendeiros se organizassem e solicitassem providências das autoridades policiais da Guarda de Vassouras e do Comando do Exército do Império, que temendo maiores consequências, determinou que o jovem militar, Luiz Alves de Lima e Silva ( futuro Duque de Caxias) conhecido pelo sangue frio e falta de piedade nos combates fosse o comandante da tropa. A ordem era clara: massacrar os quilombolas de forma exemplar, sem fazer reféns e sem negociação. No dia 11 de dezembro a tropa do Futuro Duque de Caxias atacou o quilombo. A superioridade da tropa repressora era grande que morreram jovens, mulheres, crianças e velhos desarmados.
Os poucos sobreviventes foram castigados a açoites e depois entregues aos seus donos. Os líderes Justino Benguele, Antônio Magro, Pedro Dias, Belarmino, Miguel Crioulo, Camilo Moçambique e Afonso Angola receberam 650 chibatadas, cada um, distribuídos em 10 dias e depois foram marcados a ferro.
Manuel Congo foi mantido vivo para ser castigado de formar exemplar. Foi julgado e condenado a pena máxima – enforcamento. A sentença foi cumprida em 06 de setembro de 1839, havia ele na época 49 anos, na praça pública de Vila de Vassouras. Exibindo a determinação de antes. Mesmo que não fosse condenado, preferia a morte à escravidão. Sua companheira Mariana Crioula teve sua vida poupada a pedido de sua antiga senhora, mas foi obrigada a assistir a sentença.
À luta pela emancipação do povo negro aconteceu com o protagonismo afro-brasileiro. Muitos foram os personagens tais como Dandara, Chico Rei, Chica da Silva, Zumbi, Ganga Zumba e outros tantos anônimos. Um desses heróis e personagem da História, pouco lembrado, líder quilombola do Estado do Rio de Janeiro é Manuel Congo, que neste 06 de setembro completou 182 da sua morte.
O Memorial Manuel Congo, apesar de simples, está a 100 metros do centro histórico da cidade de Vassouras-RJ no Largo da Pedreira, onde o escravo foi enforcado.
Nesse mês em que comemoramos o Dia da Consciência Negra, o Jornal DR 1 deixa registrado o nosso carinho e respeito a todos os negros e negras que contribuíram e contribuem com a História do nosso país.