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Mãos que falam: uma história sobre amor e Libras

Segundo o último Censo, das 18,6 milhões de pessoas que se declararam com alguma deficiência no Brasil, 10 milhões estão relacionadas à deficiência auditiva. Em setembro, foram celebrados os Dias Nacional do Surdo (26-09) e Internacional da Linguagem de Sinais (23-09), e lançada uma luz sobre o acesso à educação desta população no Brasil. Se é difícil para a maioria, imagine num bairro com um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do município do Rio de Janeiro.

Em Santa Cruz, região da Zona Oeste, funciona, há 17 anos, a OSC Jurema Amor nas Mãos para Deficientes e Surdos – JAMDS. Mais de mil crianças já participaram dos projetos desenvolvidos pela organização, fundada pela Dona Jurema Duarte, de 71 anos, com destaque para as aulas de Linguagem Brasileira de Sinais (Libras).

O projeto da JAMDS “Mãos que falam com amor”, apoiado pelo Instituto Phi e pelo Instituto Rio, oferece atividades socioculturais, pedagógicas e esportivas para crianças e adolescentes com e sem deficiência, incluindo jiu-jitsu, balé, carimbó, informática e Libras. Além de alunos com deficiência auditiva, a equipe recebe muitos com autismo não verbal e que também aprendem a usar a linguagem de sinais como forma de comunicação alternativa e aumentativa.

Dona Jurema, que antes trabalhava na área de enfermagem, começou a aprender Libras depois de se aposentar, com 54 anos. A partir daí, voluntariamente, passou a ensinar crianças com deficiência auditiva em sua própria casa. Em 2016, foi indicada ao programa de TV do Luciano Huck e ganhou uma sede para a JAMDS. Mas a história das “mãos que falam” começou na sua infância, quando ia com a mãe aos domingos visitar uma tia e os primos.

“Meus irmãos e primos iam brincar na rua, e eu ficava em casa fazendo companhia para meu primo Alexandre, que era surdo, e não conseguia ser incluído nas brincadeiras. Mas, de alguma forma, conseguíamos nos comunicar, na base da mímica, usando as mãos. Nós nunca tínhamos ouvido falar em Libras. Quando, depois de me aposentar, decidi aprender a Linguagem Brasileira de Sinais, achei que era importante multiplicar esse conhecimento não somente para pessoas surdas. Meus filhos e minha neta aprenderam Libras e incentivo os nossos alunos que não têm deficiência e chegam para outros cursos a aprenderem também. A inclusão social só será possível quando qualquer cidadão ouvinte também for capaz de se comunicar com as pessoas surdas por meio da Libras”, diz Dona Jurema.

O caminho a percorrer ainda é logo. A comunidade surda não tem pleno acesso ao ensino de Libras, embora a Lei 14.191, de 2021, tenha incluído a educação bilíngue de surdos na Lei Brasileira de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Outro grande obstáculo é a carência de intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras) do ensino fundamental ao superior, tornando impossível para esses alunos absorverem conteúdos ministrados nas escolas e universidades.

“Mesmo com todas as dificuldades para os que têm essa deficiência, precisamos agradecer por temos pessoas como a dona Jurema abrindo caminhos para eles. É muito importante para o Phi apoiar instituições, como a JAMDS, que dão oportunidade a quem realmente precisa”, diz Luiza Serpa, fundadora e diretora do Instituto Phi.

Sobre o Instituto Phi:

O Instituto Phi é uma organização não governamental que atua assessorando indivíduos e empresas a fazerem de maneira estratégica o planejamento de sua filantropia e, ao mesmo tempo, fortalecendo a gestão de projetos sociais e culturais, criando soluções inovadoras e customizadas para potencializar o Terceiro Setor. Em 10 anos, o Phi já apoiou mais de 2.000 projetos sociais em todo o país, movimentou cerca de R$ 218 milhões para o setor e impactou a vida de mais de 3 milhões de pessoas.