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Médica lança campanha ‘O que faço agora? Não quero decidir sozinho?’

Da Redação

O Diário do Rio entrevistou a doutora Patrícia Gurgel, dermatologista e médica geral e comunitária, que lançou a campanha ‘O que faço agora? Não quero decidir sozinho?’ sobre avaliação de medidas de proteção facial frente ao novo coronavírus.

Qual o seu objetivo nessa campanha?
Fazer um apelo para que alternativas para proteção facial sejam avaliadas urgentemente e as que forem mais viáveis sejam divulgadas. As medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde e Ministério da Saúde infelizmente não são disponíveis para todos nesse momento e, provavelmente, a tendência é ficar cada vez mais difícil de cumpri-las.

E qual é a recomendação?
A recomendação é que pessoas infectadas deverão usar máscaras cirúrgicas para não disseminarem o vírus, caso não seja possível o isolamento completo. Mas não temos máscaras suficientes e não sabemos quem são os infectados, porque apenas uma minoria está sendo testada. Além disso, como procederão as pessoas do grupo de risco, caso não seja possível manter o isolamento social ou respeitada a distância de dois metros em locais aglomerados.

Pode dar exemplos dessas situações?
Se um idoso com outra doença associada precisa ir a uma emergência por alguma outra doença, e ainda tendo que usar o transporte público, como fazer? Ou se eu tenho um pai acamado e todo o resto da família é suspeito, como chegamos perto dele para cuidar? Questões assim já existem agora e imagine como serão frequentes quando acabar o isolamento social.

Então a campanha será para resolver esses casos difíceis?
Sim, principalmente, mas fico refletindo: países com o melhor desempenho na pandemia valorizam tanto o uso de máscaras que não é possível que isto não faça a diferença nas estatísticas. Entendo que aqui não temos o ideal, não temos como testar a maioria e, mesmo que tivéssemos, o resultado não é imediato, muitas vezes demoram mais de sete dias. O isolamento domiciliar nem sempre é eficiente em determinadas realidades e máscaras não temos nem mesmo o suficiente para os profissionais de saúde. Sei que não temos o ideal, sei que não há tempo para estudos e consensos muito elaborados, mas não é por isso que não vamos tentar achar outras opções viáveis e simplesmente não responder nada.

Patrícia Gurgel

Acha que por isso surgem com frequência ideias criativas na internet?
Sim, acho que é muito claro para alguns que precisamos alguma proteção de barreira pelo menos para os grupos de risco e infectados. E como elas não serão disponíveis, leigos e até pessoas da área de saúde, aqui no Brasil e em outros lugares do mundo, buscam essas soluções. Mas o que peço é que um comitê apropriado se pronuncie sobre esses casos difíceis.

O que então é melhor?
Os profissionais da saúde muitas vezes não conseguem se posicionar em relação a algumas questões. Sabemos que o mais importante é a água e sabão e a distância de dois metros, mas apesar da principal forma de contaminação ser pelo ambiente, e esta alcançar a boca e nariz através das mãos, essa não é a única. Não é possível que, caso o uso de máscaras não fosse considerado fundamental, não tivessem na China, drones no ar fiscalizando e exigindo seu uso. Não é possível que o uso de máscaras não tenha sido importante vendo os resultados da China, Coreia e Japão. Claro, isso junto com uma educação da população, porque só o uso sem educação não adianta também.

E o que mais?
Entendo também que não se pode estimular a corrida às máscaras cirúrgicas e à N95 porque elas são fundamentais para os profissionais de saúde. Outro medo muito pertinente é que o uso inadequado dos equipamentos de proteção individual possa favorecer a introdução do vírus pelo manuseio destes com a mão suja, por exemplo. E devido a tudo isto é que solicito maior divulgação dessas orientações de proteção individual que sejam viáveis para a população, e que está tenha tenho hábil de se preparar.

Enquanto não existem estas recomendações oficiais, o que você tem visto na internet que pode parecer viável e o que pode ser prejudicial?
Meu receio é exatamente este: vejo divulgação oficial apenas do ideal, mas em situações citadas anteriormente não encontro recomendações. Por exemplo, achei bem interessante os diversos vídeos com garrafas pets, pois elas parecem viáveis e de muito fácil acesso. Mas os cuidados que se precisa ter serão os seguintes: lavá-la antes e imediatamente depois do uso ou, quando não possível, lavá-la imediatamente, guardá-la em um saco e lavar assim que possível; não recolocá-la jamais sem estar limpa; as mãos e face terão que estar limpas antes da colocação, senão ao invés da prevenção elas acabarão aumentando a chance de infecção, sendo o ideal, se a pessoa decidir usar em algum caso de emergência, ela deve já sair de casa com o material na face. Ela deve estar também o mais ajustada possível.

Uma máscara de pet com uma máscara de tecido mais ajustada por baixo não pode ajudar?
Certezas serão impossíveis, mas terão que haver opções melhores do que simplesmente o nada. Têm vídeos também de máscaras de acetato de muito fácil execução, máscaras que até a equipe de saúde está autorizada a usar desde que sejam observadas algumas características. Já vi fotos também de baldes transparentes cobrindo a cabeça ou guarda-chuvas com sacos plásticos por cima. Imagino que estas fotos tenham sido feitas em momentos extremos, mas certamente estes existirão e as pessoas buscarão soluções caseiras. E as pessoas da área de saúde certamente avaliarão melhor o que pode servir e o que pode ser prejudicial, muito melhor que deixar a população decidir sozinha. Já vi sacos plásticos direto sobre a cabeça, e isso é proibido pelo risco de sufocamento. Lenços na mão ou cabelos cobrindo a boca aumentam o risco de levar o vírus da mão para face.

Sobre as máscaras, como e quando usar?
As recomendações oficiais são máscaras cirúrgicas para os doentes, mas na prática não há suficientes e não acredito que venhamos a ter.

Então nesses casos as de pano seriam uma opção?
Bom , isso é mais controverso ainda, alguns acham que só serve para enfeite, outros acham que o uso em infectados pode reduzir a contaminação. De dentro para fora, ela pode ter função de barreira sim, outros acham que se usadas para proteção de uma pessoa saudável, mesmo que não garanta a filtragem do vírus, poderia pelo menos diminuir a carga viral, o que já seria importante para determinar a gravidade da doença. Quanto ao tipo de tecido, se duplas ou triplas, isso é mais polêmico ainda. Mas se a pessoa decidir usar tem que ter em mente que ela certamente não garantirá total proteção e que, se não usada corretamente, como colocar com a mão suja, isso será pior.

E você usaria?
Caso eu fosse do grupo de risco em situações de impossibilidade de evitar os dois metros em um lugar com aglomeração, se nada puder ser garantido, usaria pelo menos como uma barreira para proteger e evitar o contato com minha face. Imagino talvez uma máscara de pano e outra de acrílico ou acetato por cima, porque assim já protegeria os olhos. Mas, por enquanto, isso ainda é uma decisão pessoal. Ninguém se responsabilizará certamente, mas não acho justo que na falta do ideal a resposta seja nenhuma. Acho que alguém da área de saúde pode e deve orientar, pelo menos. É melhor do que deixar a pessoa decidir sozinha. Quem é contra usa o argumento de que elas podem causar a falsa sensação de proteção, ou que o uso incorreto pode aumentar a infecção. Eu uso o contra-argumento que a população bem informada e instruída, que realmente quer e precisa se proteger, tem capacidade sim de aprender, desde que seja bem informada e tenha tempo hábil, da mesma maneira que aprendeu a importância de lavar as mãos.

Mais dicas de prevenção da doutora Patrícia Gurgel

−Tenham sempre em foco: mãos limpas e ande sempre com o álcool 70. Caso não seja possível, ande na rua com uma das mãos fechadas e próxima ao corpo, pois assim você, além de protegê-la, terá maior consciência de não colocar pelo menos uma mão em nada.
− Leve consigo papéis picados para que toque nas coisas com eles quando preciso. Mas, atenção: jogue no lixo depois, não guarde de volta.
− Em casa serve água e sabão para economizar o álcool para rua.
− Unhas curtas, nada de joias!
− Outro foco será: boca, nariz e olhos protegidos. E como fazer isso? O mais fácil, mas nem sempre viável, é a distância de dois metros. Exija e esteja atento para isso.
− Quando não possível, a outra maneira será proteção de barreira, pelo menos para os grupos de risco, ou pessoas infectadas, e a questão que busco a resposta é , qual a opção?
− E mesmo fazendo tudo certo, você ainda pode se contaminar na hora de tirar a roupa, tenha sempre em mente isso. Prefira as blusas de botão ou, na hora de tirar a camiseta, afaste-a do rosto e puxe para cima.
− E, é óbvio, cuidado com alimentação, sono, e saúde mental.
− Além disso, na quarentena não se esqueça de tomar um sol perto da janela, a vitamina d é importante para imunidade e humor. Recomendo também, se possível, fazer doações para aqueles que mais precisam. Isso faz aumentar sua dopamina e lhe traz uma sensação de felicidade incrível!

Fotos: Divulgação

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