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Miguel Pereira guarda memória de uma pequena história do Rei do Baião

Em uma sexta-feira, dia 13 de dezembro de 1912, no sopé da Serra do Araripe, na Fazenda Caiçara, povoado do Araripe, a 12 km da área urbana da cidade de Exu (PE), localizada a 610 km da capital Recife. Nasce o segundo dos nove filhos do casal Januário José dos Santos (Mestre Januário) e Ana Batista de Jesus Gonzaga do Nascimento (Mãe Santana): Luiz (por ser dia de Santa Luzia) Gonzaga (sugestão do padre) Nascimento (por ter nascido em dezembro, mês do nascimento de Jesus Cristo).

Luiz Gonzaga do Nascimento foi soldado, como corneteiro, por dez anos. Recebeu, entre outros, os apelidos de ‘Rei do Baião’, ‘Majestade do Baião’, ‘Velho Lua’, ‘Bico de Aço’, ‘Gonzagão’. Inventor do forró ─ trio pé de serra ─, baião, quadrilha, xaxado, arrasta-pé e xamego. Seu instrumento era um acordeão de 120 baixos.

Hospital que o artista ajudou a construir

Foi uma das mais completas, importantes e inventivas figuras da música popular brasileira. Cantando, acompanhado por sua sanfona, zabumba e triângulo, levou alegria das festas juninas e dos forrós pé de serra, bem como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra ─ o sertão nordestino ─, para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado. Ganhou notoriedade com as canções ‘Baião’, ‘Asa Branca’, ‘Siridó’, ‘Juazeiro’, ‘Qui nem Jiló’ e ‘Baião de Dois’.

Luiz Gonzaga se referia a Miguel Pereira como a ‘Suíça brasileira’. Era a preferida de todas as serras do Estado do Rio, onde viveu por um período e teve uma relação muito particular com os moradores locais e a cidade, que foi seu refúgio, mais precisamente na Fazenda Asa Branca. Nas festas de Santo Antônio, padroeiro da cidade, era comum ele se apresentar com seus trajes típicos, sua sanfona e cantar os seus sucessos.

Gonzagão e Gonzaguinha

Em 1957, após a emancipação do município, algumas pessoas passaram a se reunir em torno da ideia de construir um hospital. O artista se juntou ao grupo e passou a promover bailes e forrós beneficentes para arrecadar dinheiro e incentivar os cidadãos participarem da construção. Ele chegava, às vezes, ao largo da igreja com um grande lençol, pedia que as pessoas o sustentassem pelas extremidades e carregassem à sua frente. Atrás, ele vinha tocando sua sanfona, cantando seus sucessos e arrecadando tudo que pudesse ser revertido em dinheiro para a construção. O hospital, único da região, leva o seu nome. Já em 1958, sua esposa Helena Gonzaga foi eleita vereadora pela extinta UDN.

Há um grande reconhecimento da população à memória de Luiz Gonzaga. Não só pelo fato de ter contribuído e participado, dentre outras coisas, na construção do hospital, mas também por ter cantado eternizado Miguel Pereira em uma de suas mais conhecidas canções. Fez da nossa cidade parte de sua história e registrou esse laço de amizade com a nossa terra, nossa gente, compondo, em parceria com seu filho Gonzaguinha, a canção ‘Boi Bumbá’. Na música, o Rei do Baião “reparte o boi” aqui em Miguel Pereira com personalidades locais.

BOI BUMBÁ

Pra onde vai a barrigueira?
Vai pra Miguel Pereira
E a vassoura do rabo?
Vai pro Zé Nabo
De que é o osso da pá?
De Joãozinho da Fornemá
E a carne que tem na nuca?
É de seu Manuca
De quem é o quarto trazeiro?
De seu Joaquim marceneiro
E o osso alicate?
De Maria Badulate
Pra quem dou a tripa fina?
Dê para a Sabina
Pra quem mando este bofe?
Pro Doutor Orlofe
E a capado filé?
Mande para o Zezé
Pra quem vou mandar o pé?
Para o Mário Tiburé
Pra quem dou o filé miõn?
Para o doutor Calmon
E o osso da suã?
Dê para o doutor Borjan
Não é belo nem doutor
Mas é bom trabalhador
Mas é véio macho, sim sinhor
É véio macho, sim sinhor
É bom pra trabaiá
Rói suã até suar
Ê boi, ê boi
Ê boi do mangangá.

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