Com mais de 60 anos de carreira no teatro, tv e cinema, o ator mineiro deixou um legado artístico e político inesquecível, sendo referência para a luta contra o racismo e pela representatividade.
Milton Gonçalves, um dos maiores nomes da cultura brasileira, deixou uma marca indelével no teatro, na televisão e no cinema. Nascido em Minas Gerais, o ator construiu uma trajetória de mais de 60 anos dedicada à arte, tornando-se um ícone não apenas por seu talento, mas também por sua militância e seu papel como referência política para a comunidade negra.
Sua carreira teve início em São Paulo, onde se formou no renomado Teatro da Arena. Ao longo de sua vida artística, Milton Gonçalves foi responsável por importantes obras no cenário cultural brasileiro. Como dramaturgo, escreveu quatro peças, sendo uma delas montada pelo Teatro Experimental do Negro, que ajudou a fomentar a representatividade negra nas artes no país. Sua militância foi além dos palcos, transformando-o em um símbolo da luta contra o racismo e das reivindicações sociais e políticas da população negra.
Na televisão, o ator conquistou a admiração do público com papéis memoráveis. Entre suas atuações mais lembradas estão os personagens de O Bem-Amado (1973), Pecado Capital (1975), Sinhá Moça (1986) e o remake de 2006, pelo qual recebeu uma indicação ao Emmy Internacional como melhor ator. Sua última participação na TV foi em O Tempo Não Para (2018), uma das novelas mais recentes em que deixou sua marca.
No cinema, Milton Gonçalves também brilhou, sendo presença constante em clássicos do cinema nacional. Sua participação em filmes como Macunaíma (1969), Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977), Eles Não Usam Black-Tie (1981), O Beijo da Mulher-Aranha (1985), O Que É Isso, Companheiro? (1997) e Carandiru (2003) consolidou seu nome como um dos grandes atores da história do cinema brasileiro. Seu último trabalho nas telonas foi no filme Pixinguinha, Um Homem Carinhoso (2021), onde deu vida a um personagem que refletia sua vasta experiência e sensibilidade artística.
Além de sua carreira artística, Milton Gonçalves também se aventurou na política. Em 1994, ele tentou a carreira política ao se candidatar ao cargo de governador do estado do Rio de Janeiro, uma experiência que, embora não tenha sido bem-sucedida, reafirmou seu compromisso com a luta por justiça social e igualdade racial.
Milton também foi homenageado no Carnaval de 2021 pela Acadêmicos de Santa Cruz, com o enredo “Axé, Milton Gonçalves! No Catupé da Santa Cruz”, uma justa celebração à sua contribuição para a cultura brasileira. Sua vida foi marcada pela dedicação à arte e pela busca por um Brasil mais justo e igualitário para todos.
O ator faleceu no dia 30 de maio de 2022, após complicações decorrentes de um AVC que sofrera em 2020. Ele foi casado com Oda Gonçalves por 56 anos, com quem teve três filhos, sendo um deles o também ator Maurício Gonçalves. Milton Gonçalves deixou um legado imenso, não apenas como um dos maiores atores de sua geração, mas também como um exemplo de resistência, comprometimento e luta pela inclusão e representatividade no Brasil.
Seu nome continuará sendo sinônimo de talento, coragem e resistência, e sua história inspirará futuras gerações de artistas e militantes. A cultura brasileira perdeu um de seus maiores ícones, mas seu legado viverá por meio das inúmeras obras que deixou e dos caminhos que abriu para os negros na arte e na política.