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Mineração e petróleo avançam sobre Terras Indígenas, alerta levantamento da Coiab

Coiab revela pressão acelerada de mineração, garimpo e petróleo sobre 32 milhões de hectares de Terras Indígenas na Amazônia 

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) apresentou nesta quarta-feira (19), durante a COP30, um levantamento inédito que revela a expansão acelerada da mineração, do garimpo e da exploração de petróleo e gás sobre Terras Indígenas em toda a Bacia Amazônica. O estudo aponta que mais de 113 mil processos minerários, 577 blocos de petróleo e gás e 32 milhões de hectares de territórios indígenas estão sob pressão direta dessas atividades, evidenciando um avanço crítico sobre áreas consideradas de alta sensibilidade socioambiental.

Durante a apresentação, lideranças indígenas destacaram que a crise climática demanda respostas urgentes e estruturais. Luene Karipuna, da Apoianp, que atua no monitoramento da exploração de petróleo na região, defendeu uma mudança imediata de postura. “Se o governo brasileiro quer guiar o mundo numa transição energética, precisa declarar a Amazônia uma zona livre de combustíveis fósseis. Essa COP não tem que ser uma COP da verdade — porque a verdade nós já sabemos —, ela precisa ser uma COP da ação concreta”, afirmou.

Os dados indicam que 2.527 Terras Indígenas já apresentam algum grau de incidência de mineração, sendo o ouro o mineral mais recorrente nos registros. A Coiab também identificou impactos significativos em áreas transfronteiriças, com avanço das atividades extrativas na Venezuela, Brasil, Peru, Guiana e Colômbia, afetando inclusive regiões habitadas por povos isolados. Além da degradação ambiental, o estudo aponta contaminação por mercúrio, conflitos territoriais e aumento de riscos sanitários em áreas historicamente vulneráveis.

Para os líderes indígenas, os impactos ultrapassam a dimensão ambiental e alcançam diretamente a sobrevivência física e cultural dos povos originários. Edinho Macuxi, liderança da Coiab, ressaltou a importância da preservação a longo prazo. “A gente não está pensando sobre essa geração. Estamos pensando daqui a 100, 200, 300 anos: conservar a água para que nossos filhos tenham água potável, proteger a floresta para garantir ar puro e manter um solo sem contaminação”, afirmou.

As organizações destacam que a expansão do garimpo, da mineração e da exploração de petróleo intensifica a perda de floresta primária, agrava secas e queimadas e ameaça territórios considerados essenciais para a estabilidade climática da Amazônia. Representantes de toda a Pan-Amazônia participaram da coletiva, entre eles Edinho Macuxi (Coiab), Pablo Hernan (Opiac), Sirito Aloema (OIS), Valdemar Lins (Associação Yanomami) e Luene Karipuna (Apoianp). O grupo reforçou a necessidade de mecanismos mais eficazes de proteção territorial e de políticas públicas que priorizem a integridade das Terras Indígenas diante do avanço crescente das pressões econômicas na região

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