Após confronto entre forças de segurança e traficantes, comunidade denuncia massacre e leva corpos até a Praça São Lucas para reconhecimento. Governo confirma 60 mortos em ação, além de 4 policiais.
A madrugada desta quarta-feira (29/10) foi marcada por uma cena de horror no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Moradores levaram pelo menos 50 corpos até a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, um dos principais acessos da comunidade, após a operação mais letal da história do estado, realizada no dia anterior.O governo do Rio havia informado, na terça-feira (28/10), que 60 criminosos foram mortos durante a ação conjunta da Polícia Militar e da Polícia Civil nas comunidades da Penha e do Alemão. Quatro policiais também morreram no confronto. Ainda não se sabe se os corpos deixados na praça fazem parte dessa contagem oficial ou se representam novas vítimas, o que pode elevar o número total de mortos.Segundo relatos de moradores, os corpos estavam espalhados em uma área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia — local onde os confrontos se concentraram. O cenário descrito por testemunhas é de devastação e violência.O ativista Raull Santiago, morador da região, ajudou a recolher os corpos e relatou o impacto da tragédia:
“Em 36 anos de favela, passando por várias operações e chacinas, eu nunca vi nada parecido com o que estou vendo hoje. É algo novo. Brutal e violento num nível desconhecido.”
Os moradores decidiram levar os corpos até o asfalto para facilitar o reconhecimento por parentes. O secretário da Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, afirmou que tomou conhecimento do caso e determinou investigação sobre o ocorrido.—Reconhecimento das vítimasA Polícia Civil informou que o atendimento às famílias para reconhecimento oficial ocorrerá no prédio do Detran, ao lado do Instituto Médico-Legal (IML), a partir das 8h desta quarta-feira.Durante o procedimento, o acesso ao IML será restrito à Polícia Civil e ao Ministério Público, responsáveis pelos exames e perícias. As necropsias de casos não relacionados à operação serão transferidas para o IML de Niterói.—Corpos também foram levados a hospitalMais cedo, seis corpos foram transportados em uma Kombi até o Hospital Estadual Getúlio Vargas (HGV). O veículo chegou em alta velocidade e saiu logo em seguida, sem identificação dos ocupantes.Imagens registradas por moradores e jornalistas mostram cenas de desespero: mulheres velando corpos na mata, filas de familiares tentando reconhecer vítimas e carros lotados de corpos cobertos por lençóis.—Uma cidade em choque
A operação, que mobilizou forças especiais, blindados e helicópteros, causou impactos em toda a cidade, com bloqueios, escolas fechadas e transporte interrompido em diversos pontos da Zona Norte.Enquanto o governo defende a ação como uma resposta ao crime organizado, moradores denunciam violência desproporcional e falta de respeito à vida nas favelas.
A tragédia no Complexo da Penha reacende o debate sobre a segurança pública no Rio de Janeiro, o uso da força nas comunidades e o custo humano das operações policiais em áreas de vulnerabilidade social.



