Por Franciane Miranda
Voltar para casa deveria ser algo fácil, mas no bairro de Santa Teresa, área central do Rio, a tarefa é mais difícil do que se imagina. O motivo é o transporte público da região que não atende às demandas da população à noite. Quando chove, e aos finais de semana, a situação fica mais complicada. Mas o drama é ainda pior, pois muitos motoristas de aplicativos e taxistas recusam com frequência a viagem.
As pessoas que trabalham à noite, ou que saem tarde do serviço, são as que mais sofrem com este descaso. Após um dia de trabalho e cansados, muitos não querem esperar tanto tempo pelo ônibus. A grande maioria acaba tendo um gasto extra com transporte, o que fica bem complicado para quem recebe um salário mínimo. A maior parte dos moradores residem em comunidades do bairro e este gasto a mais faz toda diferença no orçamento familiar.
A vendedora Aline Maciel destaca sua insatisfação com os serviços prestados pela companhia. “Quero dar ênfase no quesito serviço, pois a empresa Transurb [responsável monopolista pelo transporte em Santa Teresa], na verdade presta um desserviço, agindo de forma negligente, arbitrária, desrespeitosa, sem idoneidade moral para com os passageiros há anos”. Outras reclamações são com relação à falta de fiscalização e conservação dos veículos.
A moradora Rejane Sousa classifica a qualidade do transporte público como péssima. A autônoma explica que sempre pega o ônibus no período da noite e leva em média uma hora na volta para casa. Quando não consegue, usa táxi para retornar.
Os moradores já fizeram até grupo no Whatsapp para facilitar o dia a dia e ajudar os moradores que precisam do ‘bacurau’ (nome dado ao veículo que presta o serviço à noite). “Nele é possível saber os horários, onde está, quanto tempo vai demorar para chegar em determinado ponto, se foi retirado pela empresa ou mandado para a garagem por avaria, se está circulando com muitos atrasos devido à superlotação, entre outros”, afirma Aline.
A vendedora explica que após os últimos ônibus serem retirados, o ‘bacurau’ circula superlotado, com atrasos e não há horário certo para chegar em casa, principalmente quando o carro quebra. “Sou obrigada a depender de transportes alternativos, se tiver dinheiro para isso, ou esperar até 5h na rua pelo primeiro ônibus de cada linha que irá começar a circular; Já aconteceu isso comigo, não é invenção, nem mentira, afinal não é sempre que tenho dinheiro para pagar outro transporte, uma vez que preciso utilizar o Bilhete Único obrigatório oferecido pelas empresas e aceito apenas nos transportes coletivos credenciados”, conta.
Alguns taxistas que conhecem a dificuldade dos moradores começaram a fazer o trajeto do ônibus. Cada passageiro paga R$ 5 para voltar para casa. O que tem ajudado muito, mas não é a solução do problema, pois eles não aceitam o Bilhete Único e as pessoas continuam gastando dinheiro extra com transporte. O cenário não muda nos aplicativos e o usuário perde muito tempo tentando achar algum motorista que confirme a corrida. Vários aceitam, mas quando percebem que o destino é a região acabam recusando.
Os taxistas também não gostam de frequentar o bairro. São muitos os motivos da recusa: os trilhos do bondinho; reclamam que não existe sinal de área quando o pagamento é com cartão; ou o local é considerado área de risco. Muitas vezes, o passageiro precisa parar vários taxistas para conseguir seguir viagem. Os que confirmam a corrida revelam que aceitaram, pois já conhecem à área.
A reportagem do Diário do Rio entrou em contato com a empresa. Em nota e por mensagens via Whatsapp, a Transurb informa que as linhas 007 (Silvestre x Central), 507 (Largo do Machado x Silvestre), 014 (Paula Matos x Castelo) e 006 (Castelo x Silvestre) operam em dias normais das 4h às 23h, e aos finais de semana e feriados das 5h às 22h. Disse ainda que segue o acordo determinado pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR). A empresa esclarece que os passageiros busquem a linha SN 006 (Silvestre x Castelo), que opera com regularidade das 23h às 4h.
A Transurb e a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) precisam ouvir a população para entender a real necessidade do bairro e, juntos, criarem um plano que atenda a todos. “Precisamos de ajuda dos órgãos competentes urgentemente”, finaliza Aline, que pede o devido apoio.
Fotos: Diário do Rio