Diretor estava internado há meses em sua própria casa, sequela de um AVC sofrido em 2020.
Mais uma perda para o teatro brasileiro: Aderbal Freire-Filho, um de nossos maiores diretores teatrais, faleceu devido a sequelas de um acidente vascular cerebral sofrido em 2020. Aderbal estava internado há meses em sua própria casa, convertida em uma UTI por sua esposa, a atriz Marieta Severo.
Tendo sua articulação e espírito aguçado como suas maiores marcas de seu trabalho, Aderbal nasceu em 1941 em Fortaleza, mas se mudou para o Rio de Janeiro em 1970.
Seu trabalho para o cenário teatral carioca – e brasileiro- é um dos mais importantes e notáveis. Ele começou como ator ator, colaborando com colegas como Nelson Xavier e Cecil Thiré. Sua primeira direção foi a peça “Flicts”, de autoria do Ziraldo, em um teatro da Lagoa.
A especialidade de Aderbal eram as adaptações literárias, mas também foi a vanguarda de uma geração de dramaturgos brasileiros. Um de seus trabalhos mais importes é a peça “Apareceu a Margarida”, de 1973, cujo o enredo era sobre o autoritarismo na educação. A temporada do show foi interrompida pela censura da Ditadura.
Nem por isso se deixou intimidar pelos militares. Sua peça “A Morte de Danton”, foi encenada em uma cratera de metrô em construção, fazendo uma metáfora concreta das forças revolucionárias subterrâneas no enfrentamento ao regime ditatorial.
Muitos dos trabalhos de Aderbal foram premiados, tanto no Brasil quanto internacionalmente: ele recebeu dois dois Mambembes por “Mão na Luva”, em 1984 e Melhor Espetáculo Estrangeiro no Uruguai no ano seguinte.
No ano de 1990, fundou o Centro de Demolição e de Construção do Espetáculo, com base na sua filosofia que no teatro não há regras: suas formas são construídas e demolidas sempre. Neste mesmo ano, ganhou o Prêmio Shell pelo romance-em-cena “A Mulher Carioca aos 22 Anos”.
“O Tiro que Mudou a História”, trajetória política de Getúlio Vargas, foi outra obra de Aderbal que revolucionou a dramaturgia auriverde. Espetáculo itinerante, a peça era encenada no Museu da República- o Palácio do Catete – onde o público era conduzido pelos cômodos do prédio até a encenação da morte de Vargas no quarto em que este tirou sua própria vida.
Seguiu-se em várias produções arrojadas. Com sua esposa e parceira tanto de vida quanto de trabalho – Marieta Severo – encabeçou as produções “As Centenárias”, de 2009, e “Incêndios”, de 2013.
Aderbal também trabalhou na TV: seus papéis mais conhecidos são nas novelas “Confissões de Adolescente” (1994-1996), onde interpretou um professor, e “Dupla Identidade” (2014), no qual atuou como Senador. No cinema, apareceu nos filmes “Juventude” (2008), “Paixão e Acaso” (2012), ” Giovanni Improtta” (2013), “Amores de Chumbo” (2018) e “Dente por Dente” (2020).
Até o momento da escrita desta matéria, não há informações sobre o local do velório e enterro do diretor.
A família, aos amigos e aos fãs de Aderbal, nossas sinceras condolências.