Jornal DR1

Morrer sempre no seio indevassável da terra

Entre o ser e o nada, 
plantaria meus olhos ainda curiosos
e assim, arderia minha solidão nas ruas sujas,
nos parques movimentados e ruidosos, 
na cidade que me espreita, 
mas não suspeita
do homem renascido dentro do fogo.

E no ardor de me perder para sempre, 
encontraria qualquer coisa de paz
no vento vindo do sul,
e então, me deitaria livremente, 
à maneira dos suicidas
e contemplaria o céu distante da minha infância
numa estrela solene e sagrada
como o sofrimento na cruz.

E meus olhos mestiços resistiriam
ao enlace feroz do tempo.
E a poesia explodiria a gramática absurda da vida
e, cheia de compaixão, 
derramaria minhas memórias
pelos caminhos indevassáveis do pó transformado em carne.

E o sons da noite seriam como a presença do mal,
perseguindo meus passos.
E meu andar trôpego um sussurrar longínquo, 
quase imperceptível, 
da frágil vida resistindo à chama enfurecida da morte.

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