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Nem tudo é culpa do novo coronavírus

Editorial

O novo coronavírus (Covid-19) está fazendo estragos para além das fronteiras da saúde. Também em escala mundial, o vírus traz graves impactos na área econômica, que vem sofrendo perdas significativas. Um exemplo: a Associação Internacional de Transporte Aéreo estima que as perdas de receita do setor devem ficar entre US$ 63 bilhões e US$ 113 bilhões.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a economia global desse ano pode crescer na taxa mais baixa desde 2009: 2,4%, uma queda em relação à previsão de 2,9% feita em novembro do ano passado. Para a OCDE, se o surto for mais duradouro e intenso, ele pode derrubar essa taxa para 1,5% em 2020, em meio a fábricas fechadas e trabalhadores em casa para evitar a disseminação do vírus. Com essa situação, investidores estão preocupados e grandes mudanças nas bolsas de valores podem afetar investimentos de fundos de pensão e de poupanças individuais.

Certamente a epidemia do Covid-19 é um fator negativo em todos os aspectos. Isso não se discute. Mas, se aproveitando dessa situação, vários governos estão ‘mascarando’ seus péssimos resultados econômicos. É certo que a economia mundial já mostrava sinais claros de fragilidade antes do coronavírus. O crescimento vinha lento em boa parte do planeta, com principais exceções por conta dos EUA e China. O mercado preocupado com a guerra comercial entre a Casa Branca e Pequim e as incertezas decorrentes dos conflitos no Oriente Médio, que afetam diretamente o preço do petróleo.

E o Brasil está nesse mapa de dissimulação. Apesar de Bolsonaro ter dito recentemente que a nossa economia está “muito bem”, sabemos que isso não é assim. Basta usarmos como referência o próprio PIB (a soma monetária de todos os bens e serviços finais produzidos pelo país), que de 2019 foi de 1,1% − o menor dos últimos três anos – para a realidade vir à tona.

Para o ministro da Economia, Paulo Guedes, a melhor resposta à desaceleração da economia mundial a partir do Covid-19 é levar adiante as reformas administrativa (para expurgar servidores) e tributária (para arrecadar mais).

Não se prioriza investimentos em produção ou obras públicas, por exemplo, que significariam mais consumo e empregos. Assim, com a atual política econômica gerando mais recessão, fica fácil botar toda a culpa no coronavírus e torcer para que os desavisados acreditem nisso.

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