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Nílton Santos: o lateral que reinventou o futebol brasileiro

Foto_ Acervo historico da CBF

Elegância, lealdade e genialidade. Poucos jogadores conseguiram reunir essas três qualidades de forma tão natural quanto Nílton Reis dos Santos, o eterno “Enciclopédia do Futebol”. Nascido em 16 de maio de 1925, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, ele se tornaria um dos maiores ídolos da história do Botafogo e da Seleção Brasileira, símbolo de uma era em que o futebol era, antes de tudo, arte e inteligência em campo.

Filho de um trabalhador da Marinha, Nílton cresceu nas ruas e praias cariocas, onde aprendeu a dominar a bola com leveza e precisão. Chegou ao Botafogo em 1948 e, após um teste improvisado, conquistou seu espaço. No início, jogava como atacante, mas logo foi deslocado para a lateral-esquerda — posição na qual mudaria o modo de jogar para sempre.

O defensor que ousou atacar

Até então, o lateral tinha uma função quase exclusivamente defensiva. Nílton Santos, no entanto, enxergou o campo de forma diferente. Tinha técnica refinada, passes precisos e visão de jogo rara. Começou a avançar ao ataque, apoiar os meias, participar das jogadas ofensivas. O resultado foi uma revolução silenciosa: o lateral moderno nascia ali, nos gramados cariocas, sob os aplausos da torcida do Botafogo.

A consagração viria com a Seleção Brasileira. Nílton disputou quatro Copas do Mundo — 1950, 1954, 1958 e 1962 — e foi peça-chave nas conquistas dos títulos mundiais de 1958, na Suécia, e de 1962, no Chile. Um dos momentos mais emblemáticos de sua carreira aconteceu justamente na Copa de 1958, quando, contrariando ordens para recuar, avançou ao ataque e marcou um golaço contra a Áustria. O gesto ousado, que arrancou sorrisos e repreensões, se transformou em símbolo da sua genialidade e liberdade criativa.

O símbolo da lealdade e do futebol-arte

Em tempos de contratos milionários e transferências constantes, Nílton Santos representa um tipo de jogador quase extinto: o ídolo de um só clube. Ele vestiu apenas a camisa do Botafogo durante toda a carreira, de 1948 a 1964. Foram mais de 700 partidas e inúmeros títulos, entre eles os Campeonatos Cariocas de 1948, 1957, 1961 e 1962, além dos Torneios Rio–São Paulo.

Fora dos gramados, sua elegância se refletia no comportamento. Humilde, sereno e sempre disposto a ajudar os companheiros, foi mentor de lendas como Garrincha, com quem formou uma das duplas mais memoráveis do futebol mundial. A parceria entre os dois sintetizava o espírito do Botafogo da época: talento, irreverência e lealdade.

Nílton se aposentou em 1964, mas jamais foi esquecido. Em 2015, o estádio do Botafogo, no Engenho de Dentro, foi oficialmente retizado como Estádio Nilton Santos, uma homenagem à sua dedicação e à sua simbólica fidelidade. Em 2025, o centenário de seu nascimento reacende o reconhecimento a um craque que ultrapassou gerações e fronteiras.

Um legado que nunca envelhece

Nílton Santos não foi apenas um lateral. Foi um pensador do futebol, um artista que enxergava o jogo em sua totalidade. Sua forma de atuar inspirou gerações de defensores e transformou a função do lateral-esquerdo em uma posição estratégica e criativa. Por isso, comentaristas e adversários passaram a chamá-lo de “Enciclopédia do Futebol” — título que traduz sua inteligência tática e domínio absoluto do jogo.

Faleceu em 27 de novembro de 2013, aos 88 anos, mas sua presença permanece viva nos campos, nas arquibancadas e na memória dos torcedores. Para o Brasil, Nílton Santos é mais do que um nome no passado: é um capítulo fundamental da história do futebol-arte.

Com a bola nos pés, ele escreveu lições que continuam atuais — sobre talento, lealdade e a beleza de jogar com a cabeça erguida. E deixou um legado simples e eterno: provar que o futebol, quando bem jogado, pode ser uma forma de arte.

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