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Nosso Planeta:IA Gramatical – o surgimento de uma nova linguagem 

Reprodução Internet

A linguagem é um organismo vivo. Ao longo dos séculos, já se transformou pela influência de impérios, religiões, migrações e revoluções tecnológicas. Hoje, vivemos mais uma virada: a Inteligência Artificial não apenas escreve como nós, mas também está começando a ditar a forma como passamos a escrever.

Existe um ciclo de retroalimentação em que nós  alimentamos a IA com textos, e a IA devolve esses mesmos padrões em larga escala. O detalhe é que, ao adotarmos as sugestões da máquina em e-mails, relatórios, posts e artigos, passamos a replicar esse estilo em nossa própria produção. Assim, a fronteira entre “escrita humana” e “escrita artificial” começa a se dissolver.

Esse movimento já aparece em detalhes sutis. Expressões repetidas, como “robusto”, ou o uso frequente de travessões, transformam-se em marca de estilo padronizada. Até no mundo acadêmico os efeitos são visíveis. Nos EUA a palavra “delve”, que significa “aprofundar-se”, pouco usual, ganhou força em artigos, sinalizando que a influência da IA chega a espaços onde se esperava rigor e originalidade.

O impacto, no entanto, vai além da gramática. A tecnologia carrega vieses de seus dados de treinamento e, ao replicarmos esse padrão, consolidamos visões culturais e políticas que talvez não fossem nossas. A fronteira entre autoria humana e automatizada se torna passível de questionamentos, levantando dúvidas sobre criatividade e autenticidade.

No fim, a pergunta não é apenas como usamos a IA, mas como ela nos usa. A escrita, antes território íntimo da expressão humana, agora é também reflexo de algoritmos globais. Cabe a nós a reflexão se seremos apenas usuários, ou guardiões críticos da linguagem.

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