As mãos dela tocaram a minha perna tão discretamente que ninguém naquele transporte público notou coisa alguma. Percebi que era uma mulher de meia-idade, mas não me virei em direção a ela para verificar as formas do seu rosto, apenas permaneci imóvel, como se nada estivesse acontecendo.
As mãos faziam carícias circulares, demoradamente. Eram quentes e eu podia senti-las macias e pequenas sobre o terno azul marinho que eu estava usando como de costume. A sensação era inebriante, não apenas pelo carinho abrasador, mas também por estar vivendo algo pouco convencional para uma noite de quarta-feira.
De repente, elas se tornaram ainda mais ousadas e tocaram a parte interna das minhas coxas. Eu sentia a respiração cada vez mais rápida e opressa, mas o prazer aumentava na mesma proporção da ansiedade de ser eventualmente flagrado em situação tão constrangedora.
A provocação aumentou. A desconhecida mulher chegou ao meu sexo com volúpia e ciência – certamente já tinha feito aquilo inúmeras vezes – enquanto eu me permitia desfrutar daquele calor delicioso vindo das mãos muito brancas e habilidosas, mas incrivelmente reservadas, pois ficavam algo escondidas sob o imenso cachecol vermelho que ela usava.
As apalpadelas ganharam particular intensidade e ela cerimoniosamente deslizou as mãos sobre o meu membro ereto de baixo para cima, de cima para baixo, como num ritual de acasalamento pagão. A excitação ganhava contornos de pura ficção e o mundo foi se tornando branco, fecundo e viscoso. Depois de minutos absorto no transe erótico, quase soltei um gemido visceral, mas me contive sóbria e resolutamente, disfarçando o estado de embriaguez.
Os dedos finos dela finalmente abandonaram meu corpo esfaimado e a mulher de cachecol vermelho se levantou delicadamente, sem olhar para mim um minuto sequer. Os passageiros continuavam impassíveis e entregues aos seus próprios devaneios. Tentei me recompor e organizar as ideias novamente, mas o fato é que perdi a estação na qual deveria desembarcar.
Já em casa, ainda alterado, tinha apenas uma certeza: meu banho antes de dormir seria transpassado por água quente, espumas perfumadas e desejos tórridos.