Na noite de Páscoa, sob o céu estrelado da Pompéia, em SP, um grupo peculiar se posicionava estrategicamente em frente à faculdade. Eram os integrantes da “Serenata & Cia”, prontos para surpreender uma aniversariante muito especial. A rua, iluminada por postes antigos, tinha o charme de um cenário romântico, e os estudantes que saíam das aulas desaceleravam o passo para ver o que acontecia.
De repente, o som do violão cortou o silêncio e um coro suave começou a entoar uma canção de amor. A homenageada, Roberta, olhava ao redor, confusa, enquanto a serenata ganhava intensidade. Os colegas cochichavam, riam e a cutucavam, apontando para um homem que, escondido atrás de um poste, parecia reunir coragem. Era Rogério, seu marido, um homem de bom coração e palavras… digamos… não tão fáceis de sair.
Rogério era gago, e não era pouco. Mas seu amor por Roberta era maior do que qualquer embaraço. Ele havia planejado aquela homenagem por semanas, enfrentando sua própria insegurança para tornar a noite memorável. E agora, enquanto os músicos tocavam, ele sentia o coração martelar o peito como se fosse pular para fora. Na outra mão, segurava um enorme ovo de Páscoa e um buquê de rosas vermelhas, torcendo para que, pelo menos, os presentes falassem por ele.
No auge da serenata, quando a melodia já havia envolvido todos ao redor, Fredi Jon anunciou:
— E agora, com vocês, um homem apaixonado tem algo a dizer!
Os olhares se voltaram para Rogério, que deu um passo à frente. Ele respirou fundo e encarou Roberta, que já tinha os olhos marejados.
— R-R-R-Robe-r-rta… Eu eu-eu… eu te a-a-a-amo!
A plateia explodiu em aplausos, mas também em risos abafados. O pobre Rogério fechava os olhos e tentava destravar a língua. O saxofonista Paulo, que tentava manter a compostura, soltou um sopro desafinado de tanto segurar o riso, enquanto Fredi Jon olhava para cima, mordendo os lábios para não cair na gargalhada.
— Pa pa parabebebens hj é é é o se se seu ani ve ve versário, eu te te te te amo me me meu a mo mo mo mor
A plateia se segurava, mas um colega de Roberta soltou um “Vai, guerreiro!” e o grupo não aguentou. Os músicos caíram na risada junto com a multidão, mas não de maldade, era a magia do momento, uma mistura de amor, nervosismo e comédia involuntária.
O grupo da serenata, percebendo a dificuldade, interveio:
— Parabéns pra você… nesta data querida…
A multidão acompanhou, e Rogério, aliviado, ergueu as flores e o enorme ovo de Páscoa. Roberta correu para ele, abraçando-o com toda a força que só o amor verdadeiro tem.
Naquele instante, ficou claro que as palavras são apenas sombras dos sentimentos. O amor, afinal, não precisa de fluidez, mas de coragem. E ali, no meio da Pompéia, numa Páscoa inesquecível, Rogério mostrou que até as frases mais trôpegas podem carregar a mais pura das verdades e render boas gargalhadas.





