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O Desafio da Resiliência: Como as cidades brasileiras estão se reinventando frente às mudanças climáticas

Arquiteta e urbanista Adriana Levisky destaca que municípios brasileiros devem adotar estratégias e soluções de infraestrutura para combater os efeitos do aquecimento global

As cidades brasileiras estão se transformando em bastiões de resiliência frente às adversidades impostas pelas mudanças meteorológicas. Os recentes acontecimentos de norte a sul do Brasi nos remetem a um debate esquecido, mas vital: a resiliência climática. As imagens dos recentes alagamentos, a falta de energia por vários dias e o caos gerado pelas chuvas intensas na cidade de São Paulo são um lembrete de que as ondas de calor e secas extremas são apenas um lado da moeda no país.
A capital submersa em suas próprias águas, é o exemplo mais eloquente da necessidade de buscar a capacidade de resistir, absorver e se recuperar ou ainda se convencer a se reinventar rapidamente frente às adversidades. Este desafio global, que se manifesta através de eventos climáticos extremos e variações de temperatura, está sendo encarado com uma combinação de urgência e inovação no planejamento urbano nacional.
Adriana Levisky, membro no Conselho Deliberativo da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura – regional São Paulo (AsBEA-SP) e sócia titular do escritório Levisky Arquitetos | Estratégia Urbana, enfatiza a necessidade de adaptação das cidades: “Não é mais uma questão de se vamos nos adaptar, mas de como faremos isso. A infraestrutura urbana do Brasil precisa se renovar rapidamente, considerando não apenas as condições atuais, mas as projeções climáticas para as próximas décadas.”
A urbanista ressalta a urgência em acelerar o plano de resposta aos fenômenos extremos do clima, concordando com especialistas que apontam a necessidade de diminuir as emissões de carbono, investindo em energia renovável, aumentando a quantidade de árvores para mitigar o calor e as inundações, reutilizando a água, adotando sistemas construtivos responsáveis na indústria da construção civil, relocalizando as populações moradoras de áreas de risco, além de atuar fortemente nas ações educativas quanto à percepção da relevância de uma necessária mudança de comportamento da sociedade como um todo frente ao presente que se apresenta e ao futuro.
Em meio à diversidade climática do país, desde o árido sertão nordestino até as chuvas torrenciais da Amazônia e da região sul do país, o Brasil testemunha uma série de estratégias de mitigação. Telhados verdes, sistemas de aquecimento solar têm despontado como soluções pontuais em metrópoles como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, nos últimos anos, enquanto cidades menores vem colecionando exemplos de investimento em ampliação de áreas de permeabilidade para gestão das águas pluviais, buscando reduzir inundações e melhorar a qualidade da água.

“Tem que haver grandes investimentos de forma integrada dos governos, em todos os níveis, para criar condições seguras de moradia para as pessoas, sobretudo aquelas que, em preocupante número, que vivem em áreas de risco, nas várzeas e nas encostas”, pontua Adriana, ecoando as preocupações de renomados cientistas do clima.
Além disso, ao longo dos anos, cidades buscando expandir suas redes de transporte público para reduzir as emissões de carbono. Curitiba, exemplo pioneiro, ainda é referência mundial em planejamento urbano e mobilidade, com seu inovador sistema de ônibus BRT (Bus Rapid Transit) que continua servindo de modelo para outras metrópoles.
A arquiteta também ressalta a importância da vegetação urbana: “O verde nas cidades não é apenas estético, é funcional. As áreas verdes urbanas são essenciais para melhorar a qualidade do ar, reduzir as ilhas de calor e promover o bem-estar da população.” Projetos como o “Cidades Sustentáveis” e a “Agenda 2030” das Nações Unidas estão, apesar de timidamente e muitas vezes burocraticamente, sendo integrados ou ao menos mencionados aos planos diretores municipais, refletindo a crescente preocupação e ação em relação à sustentabilidade e à resiliência climática. Adriana enfatiza que impactos já estabelecidos do passado ainda persistem por anos, tornando essencial a preparação para um futuro com eventos extremos mais frequentes e impactantes.
O país precisa caminhar para um futuro onde a infraestrutura não apenas suporte os impactos climáticos, mas também contribui para a prevenção e a preparação para o que está por vir. “Estamos vivenciando recorrentes evidências de manifestações de socorro frente à maneira como nossas cidades vêm se planejando e se preparando, ou não, para os desafios impostos pelo clima. É uma questão de sobrevivência e qualidade de vida para as presentes e futuras gerações”, afirma Adriana.
Pequenas e pontuais manifestações em prol de transformações responsáveis podem ser observadas em várias frentes de ação, que vão desde a reestruturação de espaços públicos até a implementação de tecnologias verdes pela indústria. No entanto, tais ações precisam se tornar ações de vulto, que atuem na grande escala e de forma integrada. O setor empresarial assim como também pela sociedade como um todo precisam enxergar valor nesta mudança de comportamento, modo de produção e de modo de vida! Deste modo, as políticas públicas de incentivo, assim como os contratos de concessão de infraestruturas necessariamente devem atuar de forma integrada e responsável visando educar a sociedade em prol de boas práticas. Levisky aponta: “Os projetos de infraestrutura verde em São Paulo, apesar de pontuais, estão não só melhorando a resiliência climática, mas também servindo de espaço de lazer e convivência, o que reforça a coesão social e o bem-estar da comunidade. O que falta, neste momento, é que estes eventos pontuais possam ser tratados de forma sistêmica no país!”
O Brasil é um país de extremos climáticos, e a diversidade de suas paisagens urbanas exige uma abordagem igualmente diversificada. “Cada cidade tem o seu próprio conjunto de desafios, mas a criatividade e a resiliência são constantes. Estamos construindo não apenas cidades mais seguras, mas também comunidades mais fortes e unidas frente aos desafios do futuro. Os diversos grupos que compõem a sociedade precisam atuar juntos nesta jornada. Para isto há que se ter um mentor. Este papel claramente cabe a um governo esclarecido e um setor produtivo empenhado” conclui Adriana.”

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