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O Segredo de Areia, peça em homenagem à atriz Françoise Forton, estreia dia 08 de julho, no Teatro Glaucio Gill

Com inúmeras adaptações literárias encenadas nos palcos de todo o Brasil, Delson Antunes assina a dramaturgia e direção da peça O Segredo de Areia, baseada no livro homônimo de Rosa Kapila, que conta a história de uma adolescente moradora de rua cuja vida é transformada em sete anos. O espetáculo é uma homenagem do diretor à grande amiga e parceira de projetos culturais Françoise Forton, que partiu em janeiro deste ano e faria aniversário na data da estreia, 8 de julho. A temporada acontecerá no Teatro Glaucio Gill, em Copacabana, de sexta a domingo, às 20h, até o dia 31 de julho.

O Segredo de Areia é um espetáculo que questiona as relações humanas e as transformações da adolescência para a vida adulta. Conta a história de Alu Areia,moradora de rua de 13 anos obstinada em conhecer sua mãe. Sem nenhuma pista, só atinge o objetivo sete anos depois. Areia foi criada por Maria Gorda, uma mulher que fiscalizava o “serviço” de crianças carentes que dormiam nas calçadas, pediam esmolas e praticavam pequenos furtos. Pensando no “melhor” para Alu Areia, Maria Gorda resolve interná-la na Funabem, mas a menor foge e sua vida sofre uma reviravolta. Detetive de si mesma, em sua busca, vivencia perigos reais efantasiosos. Diante desta aventura, Areia cresce e se transforma. Enfrenta conflitos internos, supera medos e obstáculos.Para sobreviver, troca de nome, se disfarça, chega a aparecer em programa de televisão e até a ganhar uma herança.

O diretor fala do sentimento do texto. “A história de Rosa Kapila é envolvente e emocionante. Uma criativa aventura, cheia de ação, poesia e sentido visceral de humanidade. O quebra-cabeças da sua vida recebe o seu encaixe final de forma surpreendente’, diz Antunes, que realiza a peça sem nenhum patrocínio.

Autora do livro O Segredo de Areia, Rosa Kapila, é só alegria em ver sua obra transposta para os palcos. “Estou muito ansiosa para assistir à peça. É uma coisa boa que aconteceu comigo em meio a tantas ruins (Rosa perdeu dois irmãos)”. Ela conta que escreveu o livro há mais de 20 anos e teve a inspiração numa praia no Rio de Janeiro.

“Estava brincando de fazer castelinhos de areia. Quando pensei: essa areia vai virar um livro. Assim que cheguei em casa comecei a escrever.Já o primeiro nome da personagem tem a ver com a lua, pois é só inverter as letras.Iria fazer um final triste, mas pensei bem e mudei”. Kapila também colocou em sua obra lembranças de cenas que presenciava no Rio de Janeiro como mães “negociando” seus filhos na Cinelândia e outras em Teresina (Piauí), onde nasceu.

A atriz Thayanne Nascimento, intérprete de Alu Areia, se despiu de toda vaidade. “Busquei desconstruir a imagem da Thayanne atriz para dar espaço à atmosfera de Areia. Também sou maquiadora e, super vaidosa. Achei importante me despir dessa vaidade e, por isso, passei a me vestir com roupas bem simples, não apenas nos ensaios, mas nos trajetos de idas e vindas”.Para compor a personagem, a atriz esteve pelas ruas do Rio de Janeiro. “Em uma de minhas conversas com moradores de rua, me deparei com uma jovem de 17 anos. Ela me disse que estava grávida de dois meses. Perguntei se estava feliz. Ela respondeu com um sorriso de orelha a orelha: eu sou feliz’’. Thayanne comenta que a vida de Areia se confunde com a de jovens em nosso país. “É lamentável que essa não seja apenas uma ficção literária. É a história de milhões de brasileiros e brasileiras. Areia poderia trilhar um caminho previsível, mas, heroína de seu próprio destino, não aceita as condições. Areia é uma desobediente por natureza e tem por vocação contrariar qualquer estatística”, finaliza a atriz.

Delson reverenciaos profissionais da técnica.“Nosso cenário é não realista. A Alu Areia tem muita imaginação.Está bem bonito. É do José Dias, um decano da cenografia. Já a nossa trilha sonora foi composta especialmente pela Beatriz Parisi Pinheiro para a peça. Não é um musical, mas muitas narrativas literárias eu transformei em música com a Beatriz e, de vez em quando, é feita com atores cantando, o que dá outro molho para o espetáculo”.Outros parceiros também são citados pelo diretor. “A iluminação, do grande Aurélio de Simoni,revela e dimensiona os momentos fantasiosos e dramáticos do personagem. Ele é um craque com 50 anos de carreira. E o figurino, de Ianara Elisa, vai mudando ao passo que Alu Areia se transforma durante o espetáculo’’.

O diretor também presta uma homenagem à atriz Françoise Forton.“Há algum tempo Françoise e eu procurávamos uma boa história para inspirar o roteiro de um filme que planejávamos realizar. Lemos inúmeras histórias, crônicas e contos de vários autores. Quando os originais de O Segredo de Areia chegaram em minhas mãos, percebi, de imediato, que tínhamos encontrado o que tanto procurávamos”, diz Delson.‘’Começamos a desenvolver o argumento, mas logo Françoise descobriu que estava doente. Passei a acreditar que trabalhar no argumento seria uma forma de propiciar umaatividade criativa durante seu processo de recuperação’’.O diretor acrescenta que a partida de Françoise interrompeu uma parceria de mais de 30 anos de amizade, sociedade e o andamento de vários projetos juntos.

 

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