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Os Pés de Moleques do Rio Antigo

 

Conheça pontos da cidade em que trechos da antiga pavimentação da cidade foram preservados para a posteridade.

O que um doce típico brasileiro tem haver com a pavimentação das ruas nos séculos VIII e IX? 

Com certeza você conhece o pé de moleque, um das guloseimas doces mais apreciadas pelos brasileiros. Feito a base de um caramelo duro e pedaços de amendoim, é comum relacionar o doce ao formato dos pés de crianças, daí o nome.

Mas acontece que o nome Pé de Moleque também é uma maneira de referir aos antigos calçamentos das ruas do Rio de Janeiro, feito de pedras disformes e assentado de maneira irregular, dando sua aparência característica. Esse tipo de pavimentação rústica foi sumindo com tempo para dar lugar ao asfalto moderno, sendo soterrado em várias camadas de areia, pedras e piche. 

Porém, em 2015, durante as obras de construção para o Veículo Leve sobre Trilhos – o VLT – foi descoberto em vários trechos do Centro do Rio pedaços dos antigos Pé de Moleques. Não somente os calçamentos, mas também alguns objetos antigos, datados em quase 100 anos de idade, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural (IPHAN) na época da descoberta.

O Cais do Valongo é feito de pés de moleque – o ladrilho

Como o Centro estava passando por obras de revitalização naquele momento, o IPHAN junto a prefeitura montaram projetos de preservação de alguns trechos dos Pés de Moleque, para que essa memória histórica do Rio de Janeiro ficasse preservada para a posteridade.

Esse tipo de calçamento era bastante comum na Europa, porém, eram feitos com pedras lapidadas para que ficassem melhor nivelados, todavia, era preciso transportar tais pedras em navios de Portugal para o Brasil, tarefa que logisticamente complicada de fazer durante o Ciclo do Ouro em Minas Gerais, que necessitava urgentemente da construção de mais estradas para o transporte do outro.

Rio de Janeiro – Ladeira da Misericórdia, no centro da capital fluminense, é tombada pelo Iphan e vira Patrimônio Cultural Brasileiro (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Foi então que os colonos portugueses resolveram usar as próprias pedras da região para construir as estradas e essa árdua tarefa coube aos escravos: as rochas eram quebradas na base da picareta e as pedras cortadas de maneira rústica eram assentadas neste mesmo formato em que foram extraídas. Em seguida, os filhos dos escravos – chamados de “moleques” – esparramam terra arenosa sobre as pedras e usavam os próprios pés para nivelar. Eis o nome da pavimentação: Pé de Moleque.

Você pode ver os trechos preservados da pavimentação em ruas como: Rua da Constituição, Centro; Largo dos Guimarães, Santa Teresa; Ladeira da Misericórdia, Centro; Fortaleza da Conceição, Saúde e  Cais do Valongo, Saúde.

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