Sem atermos muito à brincadeira do título, a situação de perseguição que ora se coloca entre o os heróis da Marvel − e de seu desenhista, o britânico Jim Cheung − e o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, chamou a atenção durante a Bienal do Livro: o prefeito mandou recolher as cópias do àlbum da Marvel, na Bienal (8/09), porque continham um beijo entre dois personagens homens. Isso certamente traz à tona, para além de um mundo supostamente ficcional, a verdadeira face dos tempos atuais.
Em nossa sociedade existe, por um lado, uma diversidade de cores, credos e gêneros e, de outro, a recrudescência de tempos resistentes à pluralidade e a mudanças. No cenário político − no que diz respeito à distribuição de riquezas e à propriedade −, mantém-se a esquerda que acredita na igualdade e, por conta disso, subscreve um tipo de socialismo na coletividade, e a direita que acredita na liberdade individual e, por isso, se alinha com o capitalismo liberal. Entre um e outro subsiste uma massa indefinida de liberais que professavam ambas e acreditam no bem-estar de indivíduos no Estado.
Tal quadro, entretanto, não pode mais compreender tendências culturais e políticas atuais como, por exemplo, as teorias sobre a igualdade dos sexos e os novos conceitos sobre gênero. E daí surge uma surpreendente verdade: a linha contínua da esquerda-direita não abarca mais tal realidade.
Então, nossos heróis da Marvel vêm ao nosso socorro para estabelecer a ordem: as novas teorias igualitárias exigem que os governos tratem seus cidadãos com igual respeito e consideração. Igualdade esta que pode ser interpretada sob diferentes aspectos, como orientação sexual e escolha de gênero, por exemplo, e não apenas na divisão de rendas e na posse de direitos civis.
Dito isso, só nos resta aguardar os próximos episódios.
Mônica de Freitas
Bacharel em Letras, professora de Inglês e mestre em Filosofia (PR2 – 55697)