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Paris 2024: atletas brasileiros reforçam cuidados com saúde mental

Foto: Agência Brasil

Pés descalços, mãos na enxada e uma roça inteira para cuidar. A rotina, comum a muitos trabalhadores rurais do Brasil, é parte da preparação de um atleta de alto rendimento. Quando Petrúcio Ferreira, bicampeão paralímpico de atletismo, precisa acalmar a mente, é para São José do Brejo do Cruz, no interior da Paraíba, que ele corre. Nas palavras do próprio atleta, é um “combustível”, que ajuda a melhorar a concentração e a chegar bem nas competições.

Petrúcio Ferreira é ouro e José Martins prata no último dia do Mundial de Atletismo Paralímpico - em 17/07/2023

Petrúcio Ferreira – Alexandre Schneider/CPB/Direitos Reservados

“A vida do atleta, por mais que tenha muitas pessoas ao redor, acaba sendo uma vida solitária. Isso, porque é ele com o próprio sonho e pensamentos. [É] ele que precisa correr atrás nos dias de treino, que fica na dúvida se vai dar certo. Isso acaba exigindo muito da nossa mente. Estar longe da família, longe de casa. Isso exige muito”, diz Petrúcio. “Quando estou muito acelerado, volto para a casa dos meus pais, para relembrar um pouco das minhas origens e raízes, para lembrar de onde eu saí, onde eu estou e onde quero chegar.”

Por muito tempo, foi comum associar a imagem dos atletas à de máquinas ou de super-heróis. Em foco, o físico, os movimentos, a resistência, a força. Nos Jogos de Tóquio, realizados em 2021, uma dimensão geralmente invisível e mais humana ganhou destaque: a da saúde mental. Muito por conta da história de Simone Biles, ginasta norte-americana sete vezes medalhista olímpica, que deixou de competir em cinco finais para cuidar da parte psicológica.

Há pouco mais de um mês para o início da Olimpíada de Paris (26 de julho), e pouco mais de dois meses para a Paralimpíada (28 de agosto), atletas que vão participar dessas competições falaram com a reportagem da Agência Brasil sobre a importância da preparação mental. As conversas ocorreram no evento de apresentação do Time Petrobras, grupo de atletas patrocinado pela estatal.

Cada um lida com diferentes tipos de pressão. Medalha de ouro no Rio e em Tóquio, Petrúcio tenta ser o melhor no que faz pela terceira vez seguida. “Principalmente na prova dos 100 metros T47, os atletas têm esse parâmetro: aquele a ser batido nas grandes competições é o Petrúcio. Chegar ao topo pode ser mais fácil do que se manter, porque eu fico sem parâmetro. O que eu tenho de superar são meus próprios resultados e eu mesmo durante os treinos. Acaba sendo um pesinho a mais, mas consigo lidar muito bem com isso hoje. Não vou trazer isso como um fardo e uma cobrança”, afirma.

Milena Titoneli

Rio de Janeiro (RJ) 13/06/2024 – A lutadora de taekwondo Milena Titoneli, atleta que irá competir nos Jogos Paris 2024, participa do Time Petrobras. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A lutadora de taekwondo Milena Titonelirasil – Fernando Frazão/Agência Brasil

No caso da atleta de taekwondo Milena Titoneli, a preocupação com a saúde mental aumentou depois da experiência na Olimpíada passada, quando foi a quinta melhor na categoria que disputou.

“Em 2021, em Tóquio, eu tive muitos problemas. Questões bem pesadas, psicologicamente falando. Tive burnout [distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema, causada por excesso de trabalho]. E, desde então, faço tratamento com psicólogo e com coach [treinador] esportivo.”

Milena conta que foi uma fase difícil e que chegou a ser atendida por um psiquiatra e a tomar medicação, mas que atualmente não está precisando. “Foi um período difícil, mas sempre digo que a parte mental é uma das mais importantes. O físico pode estar 100%, mas, se a cabeça não está boa, não flui. É uma das coisas a que a gente tem que dar importância como atleta. E eu venho fazendo o meu trabalho. Estou muito melhor do que estava em 2021. E acho que isso vai ter reflexo no resultado.”

Em Paris, Milena vai competir na categoria de equipes mistas. Com as vivências que acumulou até aqui, ela acredita estar mais preparada para ajudar também outros companheiros a não passar pelos problemas que enfrentou.

“Chego com muita expectativa de trazer o ouro com a equipe. Minha experiência no taekwondo pode contribuir, porque os outros atletas são um pouco mais novos do que eu. E acho que vamos ter um bom resultado, porque são atletas muito fortes que vão disputar junto comigo. Eu estou muito animada. Essa preparação foi bem intensa. Foram três anos sem descanso, buscando essa vaga para chegar em Paris e conseguir o melhor resultado possível”, resume.

Fonte: Agência Brasil

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