Jornal DR1

Pé diabético é uma emergência nacional

Carta aberta da ACD (Associação Carioca dos Diabéticos)

 

“O Diabetes é uma crescente pandemia humanitária” eis o que há muitos anos anuncia uma das maiores autoridades médicas no assunto, a IDF – Associação Internacional de Diabetes, que mostra dados alarmantes sobre a doença.

Atualmente o diabetes acomete 425 milhões de pessoas no mundo e o Brasil desponta com cerca de 14,5 milhões, o quinto maior país do mundo em número de pessoas com diabetes.

Os indicadores preveem que de 2017 a 2045 ocorra uma expansão de mais 48% de diabéticos no mundo e de 62% na América do Sul.

O Instituto de Métrica e Avaliação para a Saúde (IHME) da Universidade de Washington, publicou recentemente na revista The Lancet, que há cerca de 2,25 bilhões de pessoas obesas ou com sobrepeso, ou seja, 30% da população mundial; que de 1980 a 2013, a obesidade e o sobrepeso nas crianças aumentaram cerca de 47,1%. O Brasil, segundo este instituto, está acima da média global do excesso de peso, com 58% dos homens e 65% das mulheres.

São duas pandemias: o primeiro é o da obesidade, que tem como efeito o segundo, que é o do Diabetes tipo 2, conhecido por estar relacionada ao excesso de peso e aumento da circunferência abdominal.

As duas epidemias são de natureza globais, pois são causadas pela desenfreada economia do hiperconsumo, associada a cultura do prazer imediato.

Os medicamentos dispensados gratuitamente pelo SUS aos diabéticos e Farmácia Popular são ultrapassados em qualidade e pagos inclusive por aqueles que não são diabéticos, diante dos impostos que recaem a todos.

Assim, o Diabetes é hoje a doença mais cara do mundo, superando todas as outras de grande destaque também, como o Câncer, a AIDS, a Tuberculose as Arboviroses.

A IDF, na sua publicação anual deste ano, enfatizou que 10% de todos os gastos com a saúde mundial são para atender o diabetes.

E está cada vem mais cara pois além de estar em níveis crescentes, é crônica e de gravidade progressiva, exige complexidades de polimedicamentos, exames complementares e insumos tecnológicos cada vez mais sofisticados.

Segundo cálculos da Associação Carioca de Diabetes (ACD), o gasto médio, somente com medicamentos para o controle glicêmico, é de R$ 900,00 mensais, excluindo destes os custos das complicações e das doenças associadas, enquanto o rendimento domiciliar per capita do Brasil foi de R$ 1.373 mensais em 2018, segundo o IBGE

O Diabetes também causa importante aumento da incidência de infarto do coração, do acidente vascular cerebral, da cegueira irreversível, da insuficiência renal e o Pé Diabético é a complicação mais conhecida entre todas.

Segundo os dados do Ministério da Saúde, em 2018, a rede pública do Estado do Rio de Janeiro, recebeu 3.134 internações de pacientes diabéticos que foram submetidos a alguma amputação dos membros inferiores.

Portanto, em média, foram realizadas 9 amputações por dia e dessas, três pacientes morreram a cada dois dias.

Outra forma de expressar esse drama, é que a cada três horas, uma pessoa tem amputação de um ou mais dedos dos pés, o pé ou a perna na rede pública do estado do Rio, em função do Diabetes.

Pelos números do Ministério da Saúde, o Brasil realiza cerca de 50 mil amputações ao ano, e, os estados de Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte mostraram números ainda bem piores do que no Rio de Janeiro.

É uma legião de vitimados das complicações do Diabetes, que além das complicações do Pé Diabético, também são vítimas da cegueira, acidente vascular cerebral, infarto do coração e a insuficiência renal, que termina em hemodiálise.

Além do elevado custo do diabetes, a invalidez atinge em cheio a Previdência Social, por problemas que poderiam ter sido evitados com uma melhor atenção da Rede Primária de Saúde, que é de mais baixo custo do SUS.

Segundo o próprio Ministério da Saúde, a alta incidência de complicações do Diabetes no Rio, se deve a fatores como, o encolhimento da cobertura da atenção básica — de 67%, em 2017, para 52,8%. No fim do ano passado, a prefeitura do Rio de Janeiro reduziu o número de equipes de Saúde da Família, de 1.283 para 967, e destas, 139 estão incompletas.

Portanto, foi contingenciado recursos exatamente onde é prioridade, no Posto de Saúde e nas Clínicas da Família, que compõem a primeira barreira para evitar e tratar rapidamente todas as doenças.

Diante desse alarmante quadro a ACD – Associação Carioca dos Diabéticos tem proposto que o diabetes seja de Notificação Compulsória através da dosagem de hemoglobina glicada, exame este, que tem a capacidade de identificar a gravidade do caso da pessoa com Diabetes, possibilitando-se o tratamento prioritário.

Além disso, a ACD, há muitos anos, vem reiterando que a podologia seja inserida no Serviço Público de Atenção Primária pois os cuidados com os pés, incluindo a prevenção dos ferimentos, das lesões por calos e das unhas e orientação sobre o uso de calçados adequados poderá se reduzir mais de 80% das dramáticas amputações das pessoas com diabetes.

A Saúde Pública de uma nação, determina o desenvolvimento de seu povo, pois é diretamente proporcional ao PIB, que influencia nas contas públicas, incluindo o balanço das contas internacionais, pois a maior parte dos medicamentos, insumos e equipamentos usados pelas pessoas com diabetes têm origem em outros países ou são produzidos por eles em nosso país.

O SUS, mesmo subfinanciado como está atualmente, atende 75% dos brasileiros, e é considerado um exemplo internacional de assistência médica gratuita.

O contexto da epidemia do diabetes e os dramáticos números do pé diabético sirva para esclarecer aos gestores desse país que a Atenção Primária de Saúde não pode ser contingenciada pois trata-se de uma emergência em saúde pública.

 

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