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Pelos bairros: Cascadura – trilhos, memórias e o comércio pulsante da Zona Norte

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Um bairro que cresceu na ferrovia, vive no comércio e celebra a identidade periférica

Localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, Cascadura tornou-se um bairro marcado por transformações urbanas profundas. Em 1858, a inauguração da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil — parte do primeiro trecho suburbano da ferrovia no Brasil — fez de Cascadura um importante nó de transporte que impulsionou seu crescimento. 

O nome “Cascadura” também carrega versões diversas: uma aponta para “Casca d’Ouro”, expressão usada em 1824 pela inglesa Maria Graham ao visitar a região.  Outra versão remete à pedreira que os trabalhadores da ferrovia encontraram no local — terreno tão duro que lhe deram o nome de “casca dura”. 

Um comércio que se firma e uma vocação para o transporte

Com a ferrovia funcionando, Cascadura passou a receber moradores, comércio e serviços. As principais ruas foram sendo pavimentadas, escolas e hospitais foram construídos — entre eles o Hospital Nossa Senhora das Dores, um edifício histórico. 

Hoje, o bairro é reconhecido por sua forte malha de transportes: linhas de trem, inúmeros ônibus que passam ou terminam ali, e acesso facilitado a outras regiões do município.  Esse dinamismo de circulação e conexão molda muito do jeito como Cascadura é vivido — como ponto de passagem, de chegada e de comércio que abastece o cotidiano dos seus moradores e também de quem transita pela região.

Arquitetura, paisagem urbana e espaços de memória

Desde os imóveis que margeiam as linhas férreas até o viaduto que oferece vistas do bairro, Cascadura traz marcas visíveis de sua história. Um exemplo são os edifícios antigos da Rua Nerval de Gouveia, com suas camadas de pintura sobreposta e letreiros feitos à mão. 

Além disso, o bairro abriga patrimônio significativo: o Hospital Nossa Senhora das Dores foi recentemente desapropriado pelo município, em reconhecimento à sua importância arquitetônica e histórica.  Esses elementos reforçam que, mesmo com os apelos da modernização, parte da memória urbana permanece viva e visível.

Identidade local, comércio e desafios contemporâneos

Cascadura não é apenas tramitação — é também moradia, comércio, cultura e pertencimento. O comércio agitado, que chegou a fazer do bairro um dos principais centros de subúrbio carioca, continua presente em lojas, mercados, cafés, serviços de todos os tipos. 

Por outro lado, como muitos bairros da Zona Norte, enfrenta desafios de manutenção urbana, conservação de imóveis antigos e alertas quanto à infraestrutura. A paisagem de letreiros manualmente pintados, imóveis com necessidade de reparos, o viaduto estreito para pedestres: tudo isso mostra que o bairro vive a tensão entre dinamismo e fragilidade. 

 “Não confio nem de dia. Ali perto da rua Souto, principalmente.” — comentário de morador em fórum sobre a segurança no bairro. 

Tal perspectiva crítica reforça que para além das histórias de progresso, existem realidades cotidianas que merecem atenção.

Por que Cascadura importa hoje

Mobilidade e conexão: sua função de hub de transporte tornou-se peça-chave na vida diária de milhares de cariocas, oferecendo alternativa ao centro da cidade.

Memória e patrimônio: desde a ferrovia de 1858 até os edifícios históricos que ainda resistem, o bairro guarda camadas da história do Rio que nem sempre são visíveis.

Identidade e cultura local: embora não tenha os holofotes da Zona Sul, Cascadura vive uma cultura de bairro — comércio de rua, vida de comunidade, história viva contada pelos que moram lá.

Transformação urbana: os desafios enfrentados — conservação, infraestrutura, mobilidade de pedestres — refletem temas urbanísticos mais amplos para a cidade, inclusive para a Zona Norte.

Caminhar por Cascadura: o que ver e sentir

Ao andar pelo bairro, vale observar o viaduto que domina parte da paisagem: do alto, dá para ver a linha férrea, os ipês-cor-de-rosa margeando as vias e a trama urbana que se espalha em torno da estação. 

Também é possível visitar a Praça Nossa Senhora do Amparo, ponto de encontro e comercial relevante, e observar os edifícios antigos que ainda resistem à verticalização desenfreada.

Ainda que nem tudo seja “turístico” no sentido clássico, para quem gosta de caminhar por bairros com história, identidade e vida cotidiana intensa, Cascadura oferece um cenário singular — urbano, periférico, cheio de camadas.

Cascadura, portanto, não é apenas mais um bairro da Zona Norte: é um lugar que carrega na ferrovia seus trilhos históricos, na rua seu comércio pulsante, e na comunidade sua vitalidade cotidiana. Conhecê-lo é entender como a cidade do Rio também se faz a partir das bordas, das conexões, dos espaços que ligam o centro ao subúrbio — e onde moradia, trabalho e transporte se entrelaçam.

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