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Pelos bairros: Realengo, entre tradição, lutas e renovação

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 Bairro da Zona Oeste do Rio reúne história militar, raízes operárias, religiosidade e resistência popular

Localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Realengo é um dos bairros mais emblemáticos da cidade, com uma trajetória marcada pela diversidade, fé, esforço popular e importantes marcos históricos. Sua origem remonta ao período colonial, quando a área era conhecida como “Real Engenho”, por abrigar terras de engenho de cana de açúcar pertencentes à Coroa portuguesa. Com o tempo, o nome foi abreviado para Realengo, mas o espírito de um povo trabalhador e resiliente se manteve vivo até hoje.

A partir do século XIX, com a construção da Estrada de Ferro Central do Brasil, o bairro começou a ganhar relevância como ponto de passagem e posteriormente como área de moradia para operários e militares. Em 1944, a inauguração da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, atual Academia Militar das Agulhas Negras (transferida depois para Resende), consolidou ainda mais o papel estratégico de Realengo no cenário militar brasileiro.

No campo da indústria, Realengo teve seu auge nas primeiras décadas do século XX com o funcionamento de importantes fábricas, como a Fábrica de Cartuchos e a Cervejaria Brahma. Isso atraiu trabalhadores de várias regiões e impulsionou o crescimento populacional do bairro, que começou a formar sua identidade operária, marcada por vilas operárias, clubes, associações culturais e sindicatos.

O bairro também é símbolo de religiosidade e espiritualidade. Igrejas católicas centenárias, templos evangélicos, casas de umbanda e centros espíritas fazem parte do cotidiano da região, refletindo a pluralidade de crenças do povo realenguense. A Paróquia Nossa Senhora da Conceição, por exemplo, é uma referência histórica e cultural na região, reunindo fiéis há mais de um século.

Mas Realengo também carrega cicatrizes. Em 2011, o bairro foi palco de uma das maiores tragédias escolares do Brasil: o massacre da Escola Municipal Tasso da Silveira, que vitimou 12 crianças. O episódio comoveu o país e deixou marcas profundas na memória coletiva dos moradores, que até hoje lutam por paz, segurança e acolhimento nas escolas.

Hoje, Realengo vive um momento de transformação. Apesar dos desafios enfrentados, como problemas de infraestrutura, mobilidade e segurança, o bairro segue sendo um celeiro de cultura, com grupos de teatro, saraus, escolas de samba e projetos sociais que buscam resgatar a autoestima da população e dar voz às periferias cariocas.

Uma novidade recente é o  Parque Realengo Jornalista Susana Naspolini, inaugurado em 15 de junho de 2024 no bairro, que ocupa cerca de 76.000 m2 num antigo terreno da Fábrica de Cartuchos do Exército.  Entre as principais atrações está um espelho d’água com jardins aquáticos, além de um bosque de espécies nativas da Mata Atlântica, hortas comunitárias, pomares e biovaletas para captação de chuva – soluções inteligentes para os desafios climáticos da região. Além disso, o parque é pet‑friendly, dispõe de ecoponto e compostagem, e possui o Palácio Realengo – um gabinete municipal para despachos da Prefeitura na região. Aberto de terça a domingo, das 6h às 22h, com fechamento às segundas para manutenção, o parque representa o reconhecimento da antiga luta popular por “Realengo 100 % verde” e homenageia a jornalista Susana Naspolini por sua atuação comunitária. Hoje, o local tornou-se um ponto de encontro familiar, exercício, cultura e bem‑estar em Realengo – um verdadeiro símbolo de integração entre natureza, lazer e cidade.

Com uma população estimada em mais de 100 mil pessoas, Realengo é um microcosmo da alma carioca: lutador, criativo, crente e acolhedor. Sua história continua a ser escrita por milhares de mãos que, diariamente, enfrentam as adversidades e reafirmam o orgulho de pertencer a esse território de resistência e esperança.