Um dos papeis bem executados de uma animação é trazer ao espectador assuntos complexos de forma mais direta e de fácil absorção. E quanto mais profundo for o tema da história, mais difícil fica simplificar para atender a diversos públicos. A Pixar cresceu na indústria apostando com excelência nesse cenário; filmes infantis que impactam também os adultos. E uma das franquias que mais se encaixa nessa ideia é Divertida Mente.
Em 2015 fomos surpreendidos com uma nova investida do estúdio; um filme que abordou a mente humana com leveza e profundidade. Todos que assistiram sabiam que era pertinente uma continuação. Eis que nove anos depois tivemos Divertida Mente 2, prometendo ainda mais complexidade com a chegada de novas emoções para a protagonista lidar durante o início da adolescência.
Ansiedade, Tédio, Inveja e Vergonha chegam para somar, com uma participação breve de uma outra emoção – talvez tendo um papel maior numa futura sequência. Se antes tínhamos cinco comandantes na mente de Riley, agora com mais quatro importantes sentimentos é esperado um grande amadurecimento da franquia, porém isso fica apenas na expectativa.
Divertida Mente 2 traz uma abordagem sobre as origens de uma crise de ansiedade. Com isso, seria necessário mais profundidade para abordar o tema, mas o filme não consegue alcançar o que foi feito no primeiro. Nada especificamente supera o anterior. O que torna curioso, pois a obra de 2015 conta um trajeto mais infantil e a nova, em tese, mais amadurecida.
Ao imaginar que Ansiedade pudesse ser uma coprotagonista, esperasse que a narrativa exponha os males modernos, como o uso excessivo de celulares; mais especificamente redes sociais. Você como espectador pode acreditar que esse fosse um dos temas cruciais, porém nada disso é relevante. Riley se torna uma adolescente ansiosa por conta de um desejo de ingressar no time de hockey da escola. Não que isso não seja motivo, mas a simplicidade dos fatos sem muita conexão com tempos atuais torna o todo efêmero; já que também a história se desenrola apenas sob alguns dias da vida da protagonista, transformando a animação em um caso isolado, episódico.
Ainda assim, o maior problema de Divertida Mente 2 é copiar a estrutura do primeiro. São as mesmas problemáticas, jornada e a mesma solução. Assim o roteiro se torna previsível e verborrágico, sem possuir um brilho próprio ficando completamente abaixo do seu antecessor. E quando se mostra inspirado e inventivo, sempre está associado à relação entre os personagens, que estão bem distribuídos. São nove emoções para uma narrativa de uma hora e meia e nesse roteiro a direção consegue lidar bem.
Divertida Mente 2 é uma infeliz sequência que apenas traz o funcional misturado com a repetição e a obviedade. Tem bons momentos de comédia e os personagens seguem muito carismáticos, mas é como se a própria Ansiedade tivesse comandado a produção travando os processos criativos dificultando a construção de novos rumos mais aprofundados.