O cinema popular é recheado de diversos gêneros e um dos mais aclamados é o terror. Pode não ser o principal comparado aos Blockbusters de ação, mas com certeza esse estilo consegue carregar milhões ao cinema. E esse interesse sempre existiu, até mesmo fora dos filmes, mas foi nele que as pessoas passaram a ter uma relação mais intensa. Podemos até mesmo citar grandes marcos da história do cinema passando pelo terror. Uma das obras mais relevantes é “Le Manoir du Diable” (1896) – Georges Méliès, que une importância para toda a indústria como sendo também oficialmente o primeiro filme do gênero. E o mais famoso desse primórdio é “Nosferatu” (1922).
Mas por que existe esse interesse de sentir o medo do terror?
A primeira resposta é colocarmos a nossa relação com a dopamina. Quando nosso corpo entende que um susto causa o disparo de adrenalina e em seguida vem o prazer, acabamos indo em busca de repetir essa experiência. Muitos podem até mesmo ser comparados às pessoas que praticam esportes radicais. O filme de terror é como se fosse praticar algo que nos coloque no limite. Porém o medo vai além de meros sustos.
O filósofo e teórico de cinema Noel Carroll traz à luz a ideia do Paradoxo do Terror, que aborda justamente sobre o interesse em algo que deveria afastar as pessoas. O medo, o nojo e a repulsa, por exemplo, são emoções negativas, no entanto muitos procuram ativamente obras que contêm esses sentimentos para obter prazer. E o que está no centro da atração é a curiosidade. Ao vermos um filme de terror, principalmente tendo como objeto “o monstro”, podemos sentir em duplicidade a repulsa e a intriga.
Por exemplo, estamos acostumados com insetos, mas se forem gigantes? Aí, não. Temos certeza que os mortos permanecem mortos, até vermos o primeiro zumbi. Sabemos que existem psicopatas, então vêm os filmes e criam o “super-psicopata” que é praticamente imortal, deixando-o desumanizado. Esses “monstros” dão medo porque fogem da nossa organização que criamos para explicar o que existe no mundo. Eles são “O Desconhecido” e isso nos causa medo. E por estarem fora do normal é que nos sentimos atraídos. É a armadilha perfeita.
Para Carroll a camada mais profunda é a junção das “criaturas” com a estrutura narrativa sobre a descoberta, que acaba sendo quase que sempre a mesma na maioria dos filmes: o mundo normal perturbado pelas primeiras evidências da ameaça e com o avançar da história essa ameaça vai se tornando incontestável e real. Após a revelação então nós nos mantemos mais imersos e intrigados porque agora queremos saber como resolvemos esse problema tão incomum.
Como dissera, acaba que no fim tudo gira em torno do desconhecido. Não saber o que há atrás da porta vai nos manter pregados na cadeira até que recebamos a resposta, mesmo que ela seja negativa. Pois o cinema é o perigo sem riscos reais, e o nosso corpo aceita essa dinâmica.