Por Sandro Barros
Na década de 1990 começaram a ser instaladas, no Brasil, as portas giratórias com detectores de metais nas agências bancárias. Tratava-se então de uma medida importante de segurança, já existente então em vários países e com bons resultados, diante da onda de assaltos e sequestros executados por quadrilhas criminosas. E os dados indicam que a iniciativa foi positiva. De acordo com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) , em 2000 aconteceram 1.901 roubos a bancos em todo o país, caindo para 430 em 2009.
Agora, após anos de uso, a iniciativa das instituições financeiras, ante uma quase unanimidade entre clientes e usuários dos serviços bancários, gera polêmica. Afinal, as portas giratórias ainda se fazem necessárias ou somente atrapalham a vida de quem precisa ir ao banco?
No Rio de Janeiro, há a Lei 3.211/1999, de autoria do deputado estadual Carlos Minc, que obriga os bancos em todo o estado a terem as portas giratórias com detectores de metais. Mas isso por si só não é garantia alguma. Exemplo é o banco espanhol Santander, que tem sido alvo constante de denúncias junto ao Ministério Público por não dispor de tal equipamento em diversas de suas agências. A cobrança pelo cumprimento da legislação estadual é endossada pelo Sindicato dos Bancários da capital fluminense, que trata também de resolver o problema através de protestos e reiteradas exigências em mesas de negociações para que a lei seja cumprida.
“O sindicato está sempre na defesa que as leis sejam cumpridas. Se existe uma lei prevendo portas giratórias nos agências bancárias, vamos estar atentos para esse cumprimento. A falta de portas giratórias aumenta a insegurança das bancárias e dos bancários e, independentemente do valor existente na agência, a nossa luta é pela preservação e integridade da vida dos clientes e da categoria”, afirma Adriana Nalesso, presidente do Sindicato dos Bancários do Rio.
Medida defasada
Por outro lado, cresce o número de pessoas que não apoiam atualmente o uso desse tipo de dispositivo de segurança. E isso pode ser verificado se tomarmos como exemplo o Itaú: são inúmeras as ações judiciais movidas contra o banco por clientes que denunciam terem sido alvo de constrangimento ao serem retidos indevidamente nas portas giratórias. E várias dessas ações foram ganhas. Coincidência ou não, novas agências desse banco já não contam com tais portas.
O Diário do Rio foi à agência do Itaú localizada na avenida Rio Branco com rua São José, no Centro do Rio. Foi lá que, em dezembro de 2006, o jornaleiro Eduardo Souza Santos, que após ter se revoltado por não ter seu acesso liberado na porta giratória, foi assassinado por um segurança do banco. Segundo a gerência geral da agência, “isso foi uma fatalidade”. Indagada sobre se haveria motivação racial para o assassinato, já que Eduardo era negro, a gerência sucintamente nos informou que “ambos, cliente e segurança, eram negros”.
Ela também garantiu à reportagem que atualmente os vigilantes, embora sejam funcionários de empresas terceirizadas, “são orientados pelo banco a serem atenciosos e educados com os clientes, a fim de evitar reclamações e problemas”. Apesar disso, verificamos que há, de fato, o constrangimento e insegurança para quem quiser entrar na agência com bolsas, pois elas devem ser colocadas em armários localizados na parte externa do banco, bem na calçada e ao olhar de qualquer um que por ali passe. Sobre isso, a gerência geral nos disse que a situação não é a ideal, mas que isso poderá ser resolvido após o Itaú autorizar que seja realizada uma obra que modifique o layout da agência, trazendo os armários para o seu interior.
Além das inúmeras reclamações, existe ainda outro fato importante para que se mostre defasada a utilização de portas giratórias com detectores de metais, já que a rotina dos bancos mudou no decorrer dos anos. Se antes suas tesourarias dispunham de enormes quantias de dinheiro, o que era um enorme atrativo para os ladrões, hoje isso é bem distinto, pois os carros fortes abastecem e recolhem numerários várias vezes ao dia. Dessa forma, até mesmo o cliente que quiser sacar certa quantia precisa agendar antes para que a agência reserve o valor. Então, o mais interessante, nos dias atuais, seria utilizar aparelhos mais modernos, similares aos dos aeroportos, que só bloqueiam a entrada de quem porta armas de fogo. Assim, segurança e o fim dos aborrecimentos estariam contemplados.