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Preferências (Parte 2)

Prefiro acordar bem cedo para usufruir os bons ventos da manhã.
Prefiro não jantar.
Prefiro água de coco às bebidas alcoólicas destiladas.
Prefiro pastel de carne na feira.
Prefiro adicionar canela ao leite quentinho.
Prefiro jogar baralho com meu avô a assistir a Rede Globo de Televisão.
Prefiro as notícias que eu mesmo invento.
Prefiro ser alegre a ser triste, se bem que há horas em que a gente quase se esconde debaixo da cama.
Prefiro acreditar que sou um cara legal.
Prefiro os conservadores aos revolucionários, porque não há civilização sem tradição consuetudinária e autoridade legítima. 
Prefiro o velho jeans gasto e camisetas básicas ao terno e à gravata. Eu detesto o calor. E passar frio. E passar fome. Eu quase desmaio tirando sangue e preciso sempre da mão acolhedora da enfermeira para não dar vexame.
Prefiro perfumes amadeirados bem masculinos sandalizados aos cítricos.
Prefiro atores ingleses aos tupiniquins, com exceção do meu talentosíssimo amigo Samir Murad.
Prefiro escutar samba carioca da gema. Quanta saudade da Clara Nunes!
Prefiro ler e reler mil vezes o Apanhador nos Campos de Centeio.
Prefiro as noites estreladas, quase brancas do sertão nordestino.
Prefiro a Chapada Diamantina e a Cachoeira da Fumaça aos resorts nababescos, onde se fala um inglês caricato e todos têm cara de Bill Gates e Madona.
Prefiro as mulheres que usam esmalte cor de renda nas mãos.
Prefiro as velhinhas que dizem pra gente ao final de uma boa conversa: 
– Vá com Deus, meu filho!
Prefiro o São Paulo Futebol Clube.
Prefiro as estradas infinitas como a rota 66 dos Estados Unidos.
Prefiro tatuagens ao botox.
Prefiro dormir cedo e não frequentar baladas sacripantas.
Prefiro Chico Anysio aos novos comediantes doidivanas.
Prefiro beber caldo de cana ao lado de meu pai.
Prefiro Maximiliano Maria Kolbe.
Prefiro minha esposa que diz toda noite “eu te amo” e prepara bolos de chocolate e sorvetes de papaia pra gente ser mais feliz.
Prefiro as pessoas que se comovem diante do sofrimento humano. Mas detesto os que usam as mazelas sociais para fazer proselitismo político.
Prefiro a poesia tocante dos desesperados ao falatório dos que idolatram o ódio.
Prefiro rezar em silêncio longe de todo mundo, inclusive e, principalmente, longe de mim mesmo.
Prefiro acreditar que só consigo compreender algo se antes perceber a eternidade vicejando em torno de mim.

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