Novos olhares, memórias diversas e experiências imersivas ressaltam a estação nos espaços culturais cariocas
Com a chegada da primavera, o cenário cultural do Rio de Janeiro se enche de novas exposições, encontros comunitários, oficinas, performances e reflexões. Nos museus MUHCAB, MHCRJ, MAR, no Ecomuseu de Santa Cruz e no Museu do Amanhã, o período é marcado por uma programação plural que dialoga com identidade negra, patrimônio local, sustentabilidade e participação do público. A seguir, os destaques por instituição.
MUHCAB: (Re)descobrindo identidades negras
O Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB), na Gamboa, mantém seu papel de ponte entre passado e presente, com forte presença de temas ligados à cultura negra, ancestralidade, negritude e protagonismo.
Após sua reabertura, no segundo semestre de 2024, o MUHCAB celebrou com uma série de eventos externos e internos: shows, rodas de samba, debates e gastronomia, marcando esse reencontro com o público.
Para novembro, há a tradicional programação do Novembro Negro, com exposições, performances, concurso de trança, encontros culturais e editoriais, todos com classificação indicativa livre.
O museu funciona de terça a domingo, das 10h às 17h, oferecendo espaços como galerias, auditório, biblioteca e sala de ensaio.
Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro (MHCRJ): arte contemporânea e reflexões sobre a cidade
O MHCRJ, situado na Gávea, reforça sua vocação de narrar a história da cidade sob múltiplos olhares e oferece arte contemporânea que aponta para o presente e para os futuros possíveis.
Um destaque recente é a exposição “Rio de Corpo e Alma”, com obras de dez artistas contemporâneos — esculturas, fotos, pinturas e instalações — que exploram a formação urbana, cultural e social do Rio e suas transformações. A mostra, gratuita, foi inaugurada em janeiro de 2025 e estará aberta até março.
Durante eventos como a Semana Nacional de Museus, o MHCRJ tem promovido cursos, mediações culturais, oficinas de escrita criativa, percepções sobre patrimônio e participação comunitária.
MAR: ancestralidade, arte contemporânea e participação comunitáriaO Museu de Arte do Rio (MAR), no Centro Histórico, consolida-se como espaço de encontro entre tradição, artes visuais contemporâneas e educação museal inclusiva.
Um dos destaques é a exposição “Nossa Vida Bantu”, que integra a programação principal do MAR e tem sua presença reforçada na feira de arte ArtRio 2025.
Oficinas, visitas educativas, rodas de conversa com artistas e curadores, eventos de arte e identidade, espaços inclusivos de participação (como com LIBRAS, jogos educativos), fazem parte da oferta para o público.
Ecomuseu do Quarteirão Cultural do Matadouro de Santa Cruz: território, memória e comunidades em diálogo
No extremo oeste do Rio, o Ecomuseu do Matadouro, em Santa Cruz, trabalha o conceito de museu de território: não só exposições, mas vivência, participação comunitária e redescobrimento de memórias locais.
Programa “Encontros Culturais” leva semanalmente arte-educação às crianças e jovens do bairro, com envolvimento de escritores, cordelistas, músicos, poetas, artífices locais.
A exposição itinerante “Nos Trilhos da Liberdade” comemora marcos históricos locais — instalação comemorativa dos 140 anos das estações ferroviárias de Santa Cruz e Campo Grande, e dos 130 anos da abolição da escravatura — percorrendo escolas e espaços culturais.
Também ocorrem oficinas, seminários, visitas mediadas, com foco no patrimônio arquitetônico, natural, histórico e cultural da região.
Museu do Amanhã: imersão, ciência, sustentabilidade, futuro
O Museu do Amanhã, na zona portuária, continua sendo um polo de inovação museal, focado em como o presente e o futuro se entrelaçam, sobretudo nas dimensões ambiental, social e tecnológica.
Exposições em cartaz combinam arte, ciência e memória: “Arte do Amanhã: tecnologia afetiva”, “Itinerância Fruturos – Tempos Amazônicos”, “Mulheres na Ciência e Inovação”, entre outras.
O museu tem projetos educativos constantes: visitas mediadas, oficinas, residências, diálogo com temas como crise climática, sustentabilidade, participação social.
Um destaque é o programa Ocupação Esquenta COP, ação que articula arte, sensibilização ambiental e interações com o público para pensar (e agir) em tempos de mudanças climáticas.
Desafios e tendências desta primavera
Inclusão e acessibilidade: cada instituição tem buscado adaptabilidade: desde visitas mediadas, inclusão de práticas como LIBRAS, narrativas visuais ou descritivas para pessoas com deficiência, até envolvimento de comunidades historicamente marginalizadas.
Memória e identidade local: há forte atenção ao lugar, território, histórias das periferias, trajetórias negras, indígenas — não apenas como objeto de estudo, mas como protagonistas.
Sustentabilidade e ecologia: museus como o do Amanhã reforçam sua missão ambiental, com exposições, diálogos e práticas que estimulam a reflexão sobre o futuro do planeta.
Formas híbridas e participação comunitária: os museus ampliam o diálogo externo — oficinas, expos itinerantes, intervenções urbanas, participação popular — dissolvendo fronteiras entre “o museu” e “a cidade”.