Menos de três livros completos por ano. Esse é, segundo o estudo Retratos da Leitura no Brasil, o índice médio de leitura das brasileiras e dos brasileiros. O levantamento aponta ainda que 48% da população acima de 5 anos, ou 93 milhões de pessoas, não costumam ler livro nenhum. Para quem lê, os professores são apontados como os principais influenciadores desse hábito tão essencial. O projeto Mundo da Leitura, realizado desde 2017 pela Evoluir – empresa que gera valor e impacto social por meio de iniciativas educacionais, culturais e socioambientais na perspectiva da Educação Integral – busca juntar todas essas pontas para mudar esse quadro, levando capacitação aos educadores e doação de acervos a escolas da rede pública. Cerca de 18 mil crianças já foram beneficiadas em mais de 20 cidades de todo o país. A iniciativa é viabilizada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação das cidades por onde o projeto passa.
“A arte literária é tão essencial na nossa vida que se tornou um Direito Fundamental da Humanidade, essa é a base e a inspiração do Mundo da Leitura”, lembra Francis Dias, coordenador da Evoluir. “É por meio da leitura que acessamos nossas histórias coletivas e nossos sentimentos pessoais, para que possamos ressignificar a vida. É assim que fazemos desde o início, em torno das fogueiras ancestrais, com os desenhos nas cavernas e os contos tradicionais. O poder de fabular e confabular é o mais significativo de todos os saberes humanos”, ressalta.
O coordenador explica que, nas escolas, o Mundo da Leitura assume um desafio pedagógico maior, não só despertando o encanto pelos livros, mas estimulando o desenvolvimento das habilidades de comunicação da Língua Portuguesa – escuta, fala, leitura e escrita. “E o acervo doado traz ainda obras que versam sobre meio ambiente, autocuidado, empatia e cooperação, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU e com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)”, diz Francis.
Além de receber um colorido baú para acomodar os livros, cada escola participa de encontros formativos, onde as e os educadores têm acesso a materiais que orientam como aproveitar melhor as obras, promover atividades criativas e fazer a ponte entre as narrativas lúdicas e os conceitos das diversas disciplinas. “O Mundo da Leitura renovou esperanças, escutas e olhares sobre as relações entre as pessoas e seus ambientes físicos e naturais, sobretudo neste primeiro ano de atividades presenciais pós-pandemia da COVID-19”, aponta Francis. “Para as professoras e os professores, o projeto representa novos ares para as práticas dentro e fora da sala de aula, ao verem que as crianças poderão acessar novas histórias contadas, escritas e ilustradas em diferentes formatos, permitindo a ampliação de seus repertórios e conhecimentos”, completa.
“A primeira história que eu estou trabalhando com os alunos é a do livro Lá Onde Eu Moro, aproveitando que é aniversário da cidade também para trazer o nosso contexto e a história local, os pontos turísticos que eles podem visitar”, conta a professora Vilma de Almeida, da CEMEI Professora Edite Barbosa Vasconcelos, participante do projeto na cidade de Pereira Barreto (SP). “E com a renovação da nossa biblioteca, a gente possibilita que a criança interessada pegue um livro e leve para fazer essa leitura com a família, ajudando a impulsionar seu aprendizado, com a leitura, a escrita, o vocabulário e a linguagem. O Mundo da Leitura acrescentou muito e despertou um olhar diferente e inovador das nossas crianças para a questão da leitura”.
Para a professora Lindinalva Luiz de Melo Santos, também de Pereira Barreto e que atua com os pequenos do Maternal na Creche Sossego da Mamãe, as mudanças positivas nas crianças podem ser observadas semana a semana. “O baú é muito lindo. Os olhos das crianças brilham e os livros trazem histórias que se unem muito bem ao material didático, com um leque enorme de possibilidades de aprendizado”, revela. “Até mesmo aquela criança que está mais quietinha ali se abre, se encanta com o livro, às vezes até muda sua forma de agir, seu vocabulário enriquece. E o mais importante: leva esse gosto pela leitura para casa, mudando também a história de vida da família dela através da leitura”.
“Quando eu entrei na sala de aula com o baú, parecia até que eu estava com uma cesta cheia de doces, eles ficaram encantados, começaram a pular e a bater palmas, parecia que queriam devorar os livros”, lembra a professora Viviane de Almeida Viana, da EMEIEF Georgeta Ferreira de Almeida, em Itapemirim (ES), outra cidade participante do projeto. “Tem um livro, Cartas da Terra, que a gente estava estudando sobre ciências, e eu fiz um trabalho dentro desse livro. Os alunos fizeram a resposta para a mãe Terra, que é uma cartinha no caderno, e o desenho da mandala”, revela. “Eles se interessaram muito também pela coleção Heróis, que tem uma experiência de um jogo, e eles já estão empolgados para a gente terminar o livro atual, fazer a leitura da coleção, para depois a fazer esse jogo, que é uma trilha. É um material excelente, que vai nos ajudar muito em sala de aula”.
“Um dos livros que eu trabalhei com o 8º ano foi o Ernesto“, indica o professor Júlio Langram, da EMPEF Santo Amaro, também em Itapemirim (ES). “Quando comecei a ler para eles, a turma, que é agitada, parou e começou a repensar. Nós falamos sobre preconceito, bullying, medos, amor-próprio. Eles foram dialogando e debatendo sobre esses conceitos, foi um trabalho bem bacana”, ressalta. “A leitura ajuda a abrir os horizontes, leva o nosso aluno a se aceitar, porque no Ensino Fundamental nós temos várias dificuldades, muitos têm a autoestima baixa, problemas familiares, então os livros são oportunidades de questionarem e refletirem, inclusive sobre o que veem nas redes sociais. O projeto é muito útil, porque a leitura é um amplificador de conhecimento e a educação é conquista, se a gente não souber conquistar nossos alunos, com o baú e com outros livros, a gente não consegue desenvolver um bom trabalho”.
“O hábito da leitura é poderoso e muito prazeroso, desperta um caldeirão de sentimentos e emoções, nos conecta com outras realidades, ativa a imaginação, enriquece o vocabulário, dá a oportunidade para conhecer diferentes gêneros textuais e literários”, diz a professora Caroline Gadioli Pires Brasil, da Escola Municipal Professora Bolívia de Lima Gaetho, de Niterói (RJ). “Também proporciona trazer à tona assuntos delicados com mais leveza, fazendo com que a criança se identifique e se sensibilize com diversas situações. Para marcar a chegada do baú do Mundo da Leitura, que é lindo, fizemos um intercâmbio de leitura, onde alunos leram para outros alunos e para outras turmas”, conta. “A seleção dos livros do baú é muito boa e diversificada, vamos poder usar em nossas propostas pedagógicas não só neste ano, mas para os próximos anos letivos. Fiquei encantada pela beleza do material e pela riqueza de tudo o que tem ali”.
Em 2022, o projeto Mundo da Leitura aconteceu nas cidades de Pereira Barreto (SP), Itapemirim (ES) e Niterói (RJ), englobando 15 escolas de Educação Infantil e Fundamental e atendendo a mais de 1.500 crianças, com apoio do PRONAC – Programa Nacional de Apoio à Cultura.
Mundo da Leitura em números
- 5 anos de atuação
- Mais de 20 municípios brasileiros contemplados
- Mais de 18 mil crianças beneficiadas
- Mais de 100 escolas participantes
- 10 mil livros doados
- Cerca de mil educadores engajados
Alinhado aos Objetivos Sustentáveis da ONU
Assim como todos os projetos da Evoluir, o Mundo da Leitura dialoga com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), um plano de ação para melhorar o mundo em 17 frentes até 2030. Contribui especialmente para o ODS 4, que pretende assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos. Com uma proposta transdisciplinar e sistêmica, extrapola a própria temática da educação, trabalhando conteúdos e projetos articulados com os demais ODS, tais como Saúde e Bem-estar (ODS 3), Redução das Desigualdades (ODS 10), Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS 11) e Vida na Água (ODS 14).