O Projeto Uerê não se resume a completar o ensino formal: oferece uma proposta educativa estruturada sob a própria metodologia, chamada Pedagogia Uerê‑Mello.
Essa abordagem integra o fortalecimento cognitivo (atenção, memória, lógica, linguagem), o apoio emocional e a vivência cultural. Em sua sede, situada na Baixa do Sapateiro (Complexo da Maré), os alunos recebem aulas de português, matemática, história, geografia, ciências, idiomas — além de três refeições diárias (café da manhã, almoço e lanche).
Oficinas artísticas, música, informática e esportes também fazem parte da rotina, oferecendo um ambiente propício para reajustar trajetórias impactadas por traumas sociais.
A capacitação de educadores também faz parte do escopo. A metodologia Uerê-Mello já foi disseminada em outros estados brasileiros e em cursos de formação docente.
Impacto local e desafios da realidade
Atualmente, o Projeto Uerê atende centenas de crianças e jovens de 6 a 18 anos, moradores da Maré e arredores — áreas marcadas por violência, vulnerabilidade e histórico de operações policiais frequentes.
Dentro desse contexto, o mais amplo desafio não é apenas o acesso à sala de aula, mas garantir que a aprendizagem aconteça apesar dos impactos psicológicos e sociais. Conforme o próprio projeto reconhece, muitos alunos chegam com “bloqueios cognitivos e emocionais devido à exposição constante a traumas e violência”.
Além disso, mais do que atender às demandas escolares, a organização busca ampliar as oportunidades: oferece bolsas de estudo para que alunos com alto desempenho possam frequentar escolas particulares, rompendo barreiras sociais e ampliando horizontes.
Perspectivas e aposta na educação como transformação
A trajetória do Projeto Uerê demonstra que a educação, quando combinada com atenção à dimensão emocional, pode atuar como alavanca de transformação social — especialmente em territórios onde as condições adversas moldam o cotidiano. A meta não é apenas alfabetizar ou ensinar conteúdos, mas reconstruir trajetórias de vida, resgatar autoestima e projetar futuro.
Como a fundadora Yvonne Bezerra de Mello aponta, trata-se de “educar para ajudar a encontrar no próprio ser o ímpeto, a vontade de agir, buscar e descobrir, de crescer e de progredir”.
Porém, para que iniciativas como esta ganhem escala — e alcancem ainda mais crianças e jovens — há necessidade de ampliação de recursos, engajamento institucional e reconhecimento público. O Projeto Uerê já serve como modelo replicável e, na medida em que se dissemina (por meio de capacitação de professores e adoção de práticas em escolas públicas), pode inspirar novos caminhos de intervenção.



